Convém ler com atenção os dados da pesquisa Datafolha que aponta o maior otimismo entre os brasileiros desde o final de 2014. Feito entre 14 e 15 de julho, o levantamento mostra a terceira melhora consecutiva do índice de confiança e o patamar mais alto desde dezembro do ano da Copa do Mundo no Brasil, quando o mal-estar em relação ao futuro próximo já estava instalado entre as camadas mais informadas da população.
Como ainda estamos no meio de um ano que, ninguém duvida, será de recessão acentuada, os brasileiros seguem divididos em três grupos, em proporções semelhantes: 38% agora esperam que vá melhorar, mas 30% ainda temem uma piora, e 27% avaliam que tende a ficar como está. As linhas dessa expectativa se cruzaram: até antes da metade do ano, a perspectiva de agravamento dominava, mas ainda há quase um terço da população em cada vértice.
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Analistas atribuem a melhora relativa de cenário a três fatores: uma recuperação cíclica, que viria com qualquer governo, e de fato começou a se esboçar ainda com Dilma Rousseff na Presidência; a adequação da equipe econômica, que contrasta em qualidade com o restante do governo interino; e definições políticas, tanto as relacionadas com o desfecho do impeachment quanto outras que apontam para correções, como a eleição do presidente da Câmara dos Deputados, na semana passada.
Começam a surgir projeções técnicas ainda mais otimistas do que a pesquisa do Datafolha, com estimativa de crescimento de 2% para 2017. Um dos economistas que aposta nesse número é José Roberto Mendonça de Barros, de low profile, mas considerado analista até mais técnico do que o irmão Luiz Carlos, que toca o projeto da Foton no Estado. Durante a semana, Michel Temer reagiu com manifestação pública de preocupação, falando em "exagero" e que não será fácil atingir essa expectativa. Recuperar otimismo, no momento que o Brasil vive, é condição necessária, mas não suficiente, para consolidar a recuperação. Isso vai depender, agora, da qualidade e da consistência das políticas públicas. Sem açodamento, mas também sem perda de tempo.