Ao fechar em R$ 3,2133 no último dia de junho, o dólar teve a maior queda mensal desde abril de 2003, de 11,05%. No sentido inverso, a valorização do real frente à moeda americana foi de 19,6%, a maior do planeta no período. Do impeachment ao Brexit, passando pela lei de repatriação de recursos, que facilita e incentiva a legalização de recursos mantidos lá fora, tudo se combinou para impulsionar o real. E ainda houve o toque do discurso do presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn.
Industriais reclamam, porque o dólar baixo retira competitividade das vendas de produtos brasileiros, mas o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, jogou a toalha: as exportações nem chegaram a engatar, já vão desengatar. Mas adverte que o período em que o real esteve subvalorizado deu um duro recado ao setor empresarial:
– Para nós que exportamos, ficou claro que o câmbio ajuda, mas não resolve. Não é suficiente para compensar todas as nossas deficiências, porque o custo dos produtos aqui é muito maior do que nos países mais competitivos.
Castro, que examina com lupa os dados do comércio exerior, já detectou até uma recuperação nas importações: a média diária, que estava em US$ 530 milhões em maio, subiu para US$ 580 milhões até a quarta semana de junho – o fechamento mensal da balança comercial está previsto para hoje.
Nem a relativa generosidade com as contas públicas deste início de governo interino de Michel Temer – aumentos a servidores, reajuste do Bolsa Família acima da inflação – parece ter abalado a torcida do mercado para o time econômico capitaneado por Henrique Meirelles, agora com Ilan como auxiliar técnico. Ao que tudo indica, hoje entra em campo o BC de Ilan Goldfajn, que se comprometeu com o regime de câmbio flutuante mas não descartou o uso de “ferramentas” para evitar oscilações bruscas.
Especulava-se no mercado ontem que mesmo que poucos chorem pelo dólar barato, a valorização “muito forte e muito rápida” do real deu um susto. Se for para aliviar a pesada inflação que devora a renda e atrasa o esperado corte na taxa básica de juro, contribuindo por outra via para baixar o custo da produção no Brasil, não haverá lágrimas.