Quem diria, quando o Brasil perdeu suas duas notas em grau de investimento, condição para ser receptor de recursos de fundos institucionais, que o país viria a se tornar, tão rapidamente, destino de grandes volumes de capital externo? Por trás do fenômeno que transformou a moeda brasileira na mais valorizada do planeta em junho está um mecanismo que é velho conhecido de períodos turbulentos, o chamado carry trade. Designa o movimento do investidor que toma recursos a juro baixo em um país – no caso dos mais ricos, como a taxa é menor do que a inflação, os bancos ''pagam'' para emprestar – para aplicar em outro, com maior remuneração. O ganho é fácil, rápido e sem risco efetivo.
Como havia sinalizado na véspera, o Banco Central (BC) decidiu entrar em campo e intervir nesta sexta-feira, oferecendo, pela primeira vez na gestão de Ilan Goldfajn, o tipo de contrato que equivale à compra futura de dólares, o swap cambial reverso. O câmbio reagiu com suavidade, subindo 0,6%, para R$ 3,23. Para analistas, a atuação do BC, que ofereceu contratos, mas de quantia relativamente baixa (US$ 500 milhões), sugere que a instituição não vai defender uma cotação, mas atuar apenas para conter oscilações muito bruscas ou velozes.
Por isso mesmo, há quem aposte que a moeda brasileira ainda pode se valorizar. Economista-chefe da Nova Futura Corretora, Pedro Paulo Silveira pondera que, com juros negativos em boa parte do mundo civilizado, o Brasil deve virar ''paraíso para o capital estrangeiro''. Sua avaliação é reforçada pela ajuda do que descreve como ''um cenário político mais definido''. Para comparar, Silveira cita o Japão, onde o juro básico está em -0,23%. Em vários países da Europa, em 1%. Para lembrar, no Brasil a mesma taxa é de 14,25%.
Captando com subsídio, os investidores inundam o Brasil de dólares e põem em marcha a lei da oferta e da procura: diante da abundância, o preço – no caso, a cotação – cai. Em poucos meses, as apostas dos analistas saíram de um câmbio a R$ 5 para algo entre R$ 2,90 e R$ 3,20. Se é fato que nesse intervalo a economia brasileira parou de piorar, ainda está longe de melhorar. Portanto, não são os fundamentos reais da do Brasil que atraem o capital externo. Sobra para o empresariado e os consumidores aqui dentro reagir com rapidez às mudanças velozes comandadas pelos investidores internacionais. O Brasil tem capacidade para se defender, mas é objeto, não sujeito dessa ação.