No dia em que Tia Eron (PRB-BA) roubou a cena, tanto pela surpresa quanto pela articulação do voto que definiu o avanço do processo de cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), os brasileiros ficaram sabendo do que o Ministério do Planejamento chamou de “erro técnico”. O impacto dos reajustes salariais aprovados no Congresso com incentivo do Planalto será de R$ 67,7 bilhões, em vez de R$ 52,9 bilhões até 2018, como havia sido anunciado.
Erros são humanos, portanto perdoáveis, mas alguns custam mais caro do que outros. Até hoje, o Brasil espera o detalhamento do rombo de R$ 170,5 bilhões anunciado para este ano. A mesma equipe econômica – que, não custa lembrar, é o melhor time do governo interino de Michel Temer – fez as contas. O valor havia sido anunciado por Planejamento e Fazenda. Quando o reajuste aos servidores foi anunciado, o governo federal informou que o impacto já estava na conta. Certo, o valor para este ano, de R$ 7 bilhões, não foi alterado.
Num momento em que os brasileiros são forçados a debater medidas duras – mais por exercício de especialistas do que por anúncios oficiais –, com custos sociais, um “erro técnico” de quase R$ 15 bilhões deveria ser cercado de mais solenidade e ganhar tantas luzes quanto Tia Eron. Do tamanho do rombo, depende o amargor das medidas. De cortes em programas sociais a restrições aos pagamento de benefícios, um pacote de maldades incontornáveis está sobre a mesa. Só serão realmente inevitáveis caso as contas estiverem certas. E só serão factíveis – dos pontos de vista da aceitação dos contribuintes e da viabilidade política – se tiverem total credibilidade.
Até agora, não havia motivo concreto para suspeitar da exatidão dos cálculos oficiais, mesmo com os antecedentes de manipulação, no sentido inverso, do governo suspenso de Dilma Rousseff. O momento que o país atravessa é delicado, com sinais tênues de tentativas de sair da recessão, mesmo que seja a longo prazo. O país não precisa e não merece solavancos na confiança.