Sim, o título é uma contradição em termos, se o assunto for o Produto Interno Bruto (PIB). Mas colher um recuo de 0,3% quando se esperava um tombo de 0,8% permite sonhar com um futuro diferente do passado recente. Os técnicos do IBGE ressaltaram um cenário de “estabilização abaixo de zero” (expressão da coluna), que significa pouca diferença em relação ao cenário do final de 2015. Não é bom, mas poderia ser pior, caso a queda se aprofundasse de forma mais acentuada. No inesgotável repertório de licenças linguísticas da crise, é a tal “despiora”.
No detalhamento dos dados, houve poucas boas surpresas. A maior veio de onde mais se esperava, mas sobre a qual também havia muitas dúvidas: a reação nas exportações, resultado do reposicionamento do câmbio. Junto com os gastos do governo – caso de alta que só promete mais encrenca, a essa altura –, foi o único número a escapar da tinta vermelha que respingou até na agropecuária.
Diante da surpresa positiva para a maioria dos analistas, agora é provável que o resultado contribua para revisões de uma queda mais amena do PIB ao longo do ano. No início de 2016, economistas e empresários expressavam preocupação com uma recessão ainda mais acentuada do que a registrada em 2015, com queda de 3,8%. Projeções alarmistas, na ordem de até 5%, circulavam sem chancela de fonte.
Esse risco ainda não está totalmente afastado, considerando os sinais erráticos do governo interino de Michel Temer, um dos quais é a pressa na aprovação de reajustes para servidores públicos que representam gasto adicional de R$ 8,5 bilhões. Ao comentar o resultado do PIB no primeiro trimestre, o Ministério da Fazenda voltou a colocar foco nos 11 milhões de desempregados, mas acenou com “processo de recuperação” nos próximos trimestres. Para entregar o que promete, terá de empregar muito mais esforços.