A saída do Reino Unido da União Europeia é um evento histórico sem precedentes: em mais de meio século de integração europeia, nunca um país havia abandonado o bloco. Esse ineditismo torna mais difícil fazer projeções precisas, embora haja razoável consenso sobre o poder desagregador da decisão para a economia. As divergências ficam em torno da gravidade do fenômeno. Para o Brasil, há pelo menos três pontos de impacto possíveis, na avaliação de vários especialistas. Confira abaixo cada um.
Contágio financeiro
A sexta-feira negra nas bolsas, com quedas superiores a 12% em Milão e Madri, e a desvalorização da libra e do euro frente ao dólar mostram o maior perigo embutido na decisão: um contágio em cascata que arraste o planeta para semanas ou meses de perdas, com riscos para o sistema financeiro. Exatamente por envolver um evento sem precedentes, o cenário mais benigno é o de aumento agudo de incertezas, também desfavorável para os mercados financeiros globais. A definição do processo de separação, que permitirá detalhar os custos e as consequências do Brexit, vai ajudar a dimensionar o tamanho e a profundidade dessa contaminação, assim como seu impacto no Brasil.
Comércio exterior
A fragilização do Reino Unido e da UE são riscos às exportações brasileiras. Conforme a advogada especializada em comércio exterior do escritório TozziniFreire, Vera Kanas, todos os países que detêm acordos de troca com a União Europeia (UE) precisarão entrar em novas tratativas se quiserem manter o Reino Unido como parceiro. A negociação de um acordo de livre comércio entre Mercosul com a UE pode ser um dos primeiros testes da nova estrutura. Vera destaca, ainda, que a própria participação dos britânicos na Organização Mundial do Comércio (OMC) precisará ser renegociada, uma vez que o Reino Unido integrava o quadro da instituição apenas por meio do bloco europeu.
Acordos internacionais
O Brexit coloca em xeque todo o mecanismo de integração econômica. Para Marcos Troyjo, professor da Universidade de Columbia, o desconforto com a globalização atingiu até os vencedores do processo, caso dos britânicos. A Alemanha será fortalecida.
– O Greenwich geopolítico da Europa vai mudar – avalia.
Haverá um estancamento do grau de profundidade da integração, segundo Troyjo, e os novos acordos internacionais não seguirão mais a lógica territorial, como UE, Nafta e Mercosul:
– Serão os que unem países que pensam da mesma maneira, como é o caso da Parceira Transpacífica. O que une Peru e Vietnã é que topam jogar o mesmo jogo.