A relação entre dólar e real avança para fechar este junho com a maior queda para o mês desde a implantação do Plano Real. Como os brasileiros foram apresentados à nova moeda em 1994, lá se vão 22 anos. O alívio representado pela cotação de R$ 3,23, a menor em um ano, parece bom, ainda mais no dia em que a inflação medida pelo IGP-M surpreendeu e acumulou 12,2% em 12 meses.
Mas o dólar mais barato também embute preocupações. Foi justamente a desvalorização do real que permitiu dois movimentos que estão na base desse ensaio de reação econômica a que assistimos nestes dias: o aumento da exportação, ainda que discreto, e a troca das compras do Exterior por encomendas a fornecedores nacionais, que gera negócios e empregos dentro do país.
A menos que o Banco Central se manifeste nos próximos dias – no sentido de intervir no mercado –, o plano de seu presidente, Ilan Goldfajn parece ser trocar reação a curto prazo, dada pelo câmbio e portanto sujeita às volatilidades internacionais, por outros tempo e origem: quando a inflação enfim começar a cair, cortar o juro e reanimar o crédito.
O que tem aberto espaço para o reforço do real em relação ao dólar não é só a situação da economia no país, mas sobretudo o novo arranjo no Exterior. Pesam desde o Brexit, que sinalizou um provável adiamento na esperada nova alta do juro nos Estados Unidos até a perspectiva de que o juro, por aqui, vai demorar mais a começar a famosa ''trajetória de baixa'' – além, é claro, da retirada do arsenal de mecanismos de intervenção do BC no mercado.
O que é irônico, na atual situação, é que Ilan, ainda como economista-chefe do Itaú Unibanco, havia puxado as expectativas de que o recuo da inflação abriria espaço para um corte de juro em meados do ano.
O efeito desestabilizador do Brexit na economia global devolveu protagonismo a personagens que haviam se tornado coadjuvantes: os emergentes. O real, embora tenha se apreciado muito, foi a terceira moeda mais valorizada frente ao dólar nesta quarta-feira atrás do rand da África do Sul e do peso da Colômbia. Mas a mudança de status é provisória: vai durar enquanto não se aplacarem os temores de que a turbulência tenha voltado para uma série sem previsão de final.