Primeiro presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o economista Gesner Oliveira hoje comanda uma respeitada consultoria, a GO. No Cade, era perito em casos relacionados a telecomunicações, entre outros temas.
Ligado ao PSDB, mas cauteloso, avalia que a série de circunstâncias que cercaram a Oi tiveram papel importante para a formação da dívida multibilionária da empresa.
A história da Oi é cheia de incidentes. A sequência ajuda a explicar o endividamento?
Acho que sim. Não dá para analisar o desempenho sem levar em consideração decisões judiciais muito desfavoráveis, a quebra do grupo Espírito Santo (banco sócio majoritário da Portugal Telecom), que teve um impacto muito forte na empresa, as disputas societárias. Todos esses eventos acabam prejudicando muito o desempenho da empresa. São questões que vão além da lógica de mercado. Sob essa ótica, talvez o problema tenha sido não dar a ênfase, suficientemente rápido, em fornecer mais linhas, e tenha havido uma concentração excessiva em telefonia fixa. Mas acredito que a soma das circustâncias foi o que gerou essa situação.
Os problemas foram se somando, em impressionante sucessão, ou há problema na origem, na formação da empresa?
Acho que não podemos, necessariamente, associar a origem da empresa a essas circustâncias. A quebra de um banco internacional, por exemplo, não tem ligação alguma. Porém, é uma trajetória que não corresponde àquilo que se deseja, que são empresas muito eficientes, com governança. Muitos analistas, às vezes, derivam para conclusões muito rápidas. Não dá para fazer isso. Mas, uma mensagem de ênfase em boa governança e transparência e foco e eficiência ficou a desejar a partir desse episódio.
A tentativa de transformar a Oi em uma das ''campeãs nacionais'' foi outro erro nesse processo?
É uma conclusão muito precipitada. Acho que a estratégia de criar "campeãs nacionais" não é boa, embora haja casos bem-sucedidos. Mas é muito difícil o Estado ou o governante eleger corretamente a empresa. Como ele vai saber qual é a melhor candidata? A melhor maneira é deixar os consumidores elegerem as campeãs. O que cabe ao governo? Dar boa regulação, regras estáveis, um ambitente empresarial favorável ao crescimento das empresas campeãs. Mas deixa o mercado fazer, que faz muito melhor.
É viável sair de uma recuperação judicial de R$ 65 bilhões?
Quando discutimos, lá atrás, a lei de falências e o estatuto da recuperação judicial, a ideia era permitir que sempre fosse possível. Permitindo que a atividade da empresa não fosse paralisada. Essa é a lógica. Aliada ao fato que, tratando-se de um setor muito regulado, é preciso muito foco para que não haja uma descontinuidade do serviço ou uma perda de qualidade. Grantido isso, é possível, sim. Há muitos casos de saída de recuperação judicial de empresas enormes.
Quais seriam as alternativas práticas, nesse caso?
Nesses casos, é natural uma busca por investidores que queiram aplicar em uma empresa com potencial grande e uma carteira de clientes invejável. Já há um espaço interessante para investidores. No caso dos credores, eles têm a oportunidade de até ampliar sua participação.
O pedido de recuperação da Oi significa mais desgaste na imagem do Brasil e das empresas do país?
Nem diria que é um risco, já é um fato. Tenho conversado muito com investidores. Na última rodada de conversas, havia perguntas frequentes sobre a Oi. Na economia, quando há um evento assim no setor de telecomunicações, embora não tenha tanto a ver com outros setores, é contagiante. Há uma apreensão e uma percepção de que a economia não está bem. Ao mesmo tempo, os investidores começam a perceber sinais animadores. Uma mudança no discurso e na qualidade da politica econômica. Começam a perceber oportunidades muito interessantes no Brasil. O investidor tem apreensão, mas também entende a importância e as oportunidades que o mercado brasileiro oferece.
Como está o balanço de riscos e oportunidades nesse momento?
Estou otimista. Acho que o balanço é positivo. Há, sem dúvida, riscos grandes. Ainda há um processo de impeachment ocorrendo, um desemprego muito grande e as medidas demoram para surtir efeito. Mas há grandes oportunidades. O Brasil tem duas fronteiras de expansão fenomenais. Uma é infraestrutura, que é uma tragédia, mas também apresenta uma grande oportunidade. E outra é o setor externo, que vem se recuperando. Passou de um déficit de US$ 4,1 bilhões em 2015 para um superávit acima de US$ 50 bilhões neste ano.