Descendentes de celtas que habitavam a Gália às vésperas da anexação do território pelo imperador romano Júlio César resistiam bravamente à invasão. Na época, Roma era metrópole, e os gauleses, um tipo de povo bárbaro. Outro ramo de descendentes celtas, os britânicos, definem nesta quinta-feira o grau de adesão à nova metrópole, Bruxelas como símbolo da União Europeia (UE).
O risco do Brexit – saída da Grã-Bretanha do bloco montado para afastar os riscos de guerras sucessivas – começou com uma bravata, passou pelo trauma de um assassinato e, agora, pode deixar o mundo outra vez à beira de um precipício. Só a perspectiva de aumento no risco de que o voto ''leave'' (sair) predomine sobre o ''remain'' (ficar) já arrastou as bolsas internacionais para quedas significativas. O plebiscito foi uma arma do então candidato David Cameron para vencer a disputa pela reeleição – isso nos lembra de algo, não?. Hoje, virou-se contra o criador, que agora tenta convencer a votar a favor da UE.
A preocupação não domina apenas o mercado financeiro. Nesta quarta-feira, jornais britânicos relatavam filas em frente a casas de câmbio e bancos. Britânicos tentavam proteger seu dinheiro trocando libras – uma das moedas mais valorizadas do planeta – por dólares.
A preocupação se justifica frente às projeções de que o país perderá, a longo prazo, até 1,5 ponto em seu Produto Interno Bruto (PIB). Se o país fica menos rico – pobre, no caso britânico, seria um exagero –, a moeda sofre.
Desta vez, os genes celtas dos britânicos não clamam pela manutenção de território, mas pela liberação de regras que consideram excessivas. Se a civilização é a vitória da imposição de regras de convivência, o que está em jogo, outra vez, é a adesão a esse padrão. Depois de superar a crise americana, a europeia, a grega, a dos emergentes – entre os quais o Brasil –, o mundo está diante de um solavanco na economia sem parâmetro histórico de comparação. Era o que faltava.