O adiamento das esperadas medidas do governo Temer, especialmente na economia, ajudou a azedar o humor do mercado em dia de preocupação global com queda nas cotações de petróleo e minério de ferro e com o aumento da probabilidade de alta de juro nos Estados Unidos, o que pode drenar para lá investimentos internacionais.
Em vez da alta que festejaria a troca de governo pela qual os investidores na bolsa tanto especularam, o primeiro dia da nova gestão foi brindado por uma queda robusta, embora não estrepitosa, de 2,7%.
Ao justificar que tem pressa, mas não pode se precipitar, na definição da dose de remédio para a crise, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, explicou que ainda precisa medir os sinais vitais remanescentes. O governo interino duvida da projeção de déficit primário (falta de recursos, sem contar a necessidade de pagamento de juro da dívida) projetada em R$ 96,7 bilhões. A promessa é de tirar eventuais esqueletos de armários e preparar contenções na medida exata.
– Uma questão das mais relevantes é a preocupação de que as metas que são anunciadas sejam realistas – disse.
O pente-fino é a marca dos primeiros dias do governo Temer. Vai do macroeconômico déficit público até os programas sociais. Depois do discurso tranquilizador de Michel Temer na quinta-feira, coube aos ministros traduzir em termos de ajuste promessas vagas de não tirar direitos adquiridos e não cortar programas sociais. Meirelles reiterou que os benefíciosnão vão desaparecer, mas avisou: mantê-los não quer dizer sustentar mau uso de recursos:
– Pressupõe avaliação rigorosa.
É do pente-fino das contas públicas que vai depender a conta que pode acabar, mais uma vez, no bolso dos contribuintes. Meirelles fez questão de deixar aberta a porta para cobrança de CPMF. Dependendo da envergadura de eventuais esqueletos, outras alternativas podem voltar à mesa, como o aumento de alíquotas de tributos que não precisam passar pelo Congresso, caso da Cide, sobre os combustíveis, o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Como elevar IPI em plena recessão seria atirar contra o próprio pé, e uma das incidências do IOF – na compra de dólar em espécie – acabou de ser elevada, as opções se estreitam.Embora tenha afirmado que cortar despesas é prioridade, Meirelles reiterou que, mesmo em um país com carga tributária reconhecidamente excessiva, o equilíbrio fiscal é prioritário. O governo sabe que alta de imposto enfrentará rejeição pesada. Por isso passa o pente-fino.