Na economia, os cinco anos e meio de mandato de Dilma Rouseff foram marcados por uma relação conflituosa, primeiro com empresários e, mais tarde, com o mercado financeiro. Se enfrentou a oposição do poder econômico, a presidente que conduziu pessoalmente a economia cometeu erros capitais que ajudaram a condicionar seu julgamento e seu futuro.
Nova matriz econômica
Para o governo Dilma, o tripé macroeconômico – superávit primário, câmbio flutuante e meta de inflação – era adequado aos rumos da economia na primeira década do século, mas ultrapassado após a crise de 2008. Surge a nova matriz econômica, baseada em juro baixo, real valorizado em relação ao dólar e superávit primário conforme a necessidade. A realidade inverteu o cenário esboçado e decretou o fracasso do ensaio.
Sem concessões
O juro já havia saído da mínima histórica de 7,25% – estava em 9,5% – quando o governo Dilma tentou fazer seu primeiro plano de concessões. Em setembro de 2013, a falta de interessados na BR-262 assinalou o fracasso da tentativa de estabelecer teto para a Taxa Interna de Retorno (TIR), espécie de margem de lucro do investidor. Foi o segundo sinal forte de desconfiança do empresariado, que cresceria a partir daí.
Intervenção estatal
Muito antes da Lava-Jato, a Petrobras foi usada para segurar a inflação, que começava a se acelerar. Com o petróleo caro lá fora e preços represados aqui dentro, as finanças da então maior empresa no país foram para o vinagre. O desvio da corrupção foi como gasolina no fogo. A Eletrobras também serviu a projetos controversos, como Monte Belo.
Curto-circuito na energia
O setor elétrico em 2015 foi um dos motivos que levaram a Standard&Poor’s a retirar do Brasil o selo de bom pagador. A fagulha da crise surgiu em 2012, quando o governo decidiu forçar a queda de 20% no preço da energia elétrica para famílias e empresas para estimular a economia. Falta de chuva e atrasos em investimentos apertaram as empresas, e às vésperas da eleição, o necessário aumento dos preços não foi realizado. O curto veio em 2015.
Bolsa empresário
Benefícios tributários, financeiros e de crédito concedidos ao setor produtivo dobraram no governo Dilma: de R$ 197 bilhões ao ano para R$ 385 bilhões. Em outros países é comum aliviar o imposto de renda, mas raro criar tantas alíquotas de impostos para indústrias. Há mais de cem tipos de gastos tributários, nome dado às desonerações, e a União deve fechar o ano com déficit de R$ 100 bilhões.
Ajuste pelo meio
O processo de ajuste que Joaquim Levy tentou liderar prometia recolocar o país nos trilhos e recuperar a credibilidade perante investidores. Sabotado no Congresso e entre aliados do governo, acabou junto com o mandato de Levy.