Às vésperas do início de um novo governo, o câmbio dispara, a bolsa despenca, o juro está muito elevado, o desemprego sobe, a incerteza é alta e o setor privado está apreensivo. Parece, mas não é o Brasil de maio de 2016, é o cenário do início de 2003, lembrado na sexta-feira pelo ex-ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan, em Porto Alegre, para uma plateia de empresários reunida na posse da nova diretoria do Lide.
– Foi um início parecido, difícil, mas as coisas acabaram melhorando – relembrou Furlan, atualmente chairman do Lide Internacional, sobre o início do governo Lula, no qual atuou como ministro do Desenvolvimento por quatro anos.
Furlan contou que, na época do convite. como bom engenheiro, fez uma lista de prós, com poucos itens, e de contras, com vários, mas acabou aceitando. Sobre outros que farão o mesmo em um provável futuro governo Temer, Furlan manifestou confiança cautelosa:
– Não tenho a pretensão de estar certo, mas estou otimista. Quem é empresário há mais tempo sabe que os fatores reais são importantes, mas a percepção influencia muito. Temos a chance de recuperar credibilidade e previsibilidade. Há profecias que nós podemos ajudar a realizar.
Se Furlan, um ex-ministro de Lula, tenta manter o otimismo em relação ao governo Temer, essa atitude não é unânime entre o empresariado. Assim como embute grandes expectativas, a mudança de gestão inquieta a parte da sociedade que mais quer conquistar. Afinal, da recuperação da confiança de empresários depende a esperada retomada do crescimento na economia.
Nos últimos dias, sinais de que o corte no número de ministérios não será o esperado e de que o perfil dos escolhidos pode ficar menos técnico e empresarial do que o inicialmente previsto. Em vez de um corte de quase um terço no número de pastas, agora o mais provável é que o enxugamento fique em dois ou três, ou seja, ainda menor do que o executado por Dilma Rousseff no auge da pressão – foram sete.
Entre dificuldades na articulação política ampliadas com o afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por mais irônica que essa situação pareça, e resistências a nomes antes considerados certos na equipe de Temer, a configuração do ministério começa a parecer menos “notável” do que se supunha inicialmente. Essa circunstância aumenta o temor dos empresários de que as mudanças tão esperadas custem mais a ocorrer.