O pato que enfeitou as manifestações a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff foi criado, originalmente, como um protesto contra a recriação da CPMF. Enquanto o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, padrinho do pato, é cotado para um ministério de peso num eventual governo Temer, crescem os recados de que, diante do tamanho da crise fiscal, esse ou outro tributo é “inevitável”.
Talvez até seja, mas convém debater. Raul Velloso, um dos mais experientes especialistas em contas públicas, discorda da “inevitabilidade”. Crítico mordaz do governo Dilma e de sua contabilidade criativa, Velloso pondera que, se a CPMF foi tão rejeitada em uma gestão, não pode se tornar palatável em outra:
– Não tem clima, a carga tributária está em 40% do PIB, não dá para dizer ‘vou aumentar’. Não há nada mais impopular.
É o que têm dito empresários de diversos calibres: o copo está cheio, e qualquer gota a mais o fará transbordar. Velloso sugere outro curso de ação: expor a situação das finanças públicas com transparência e apresentar um plano para colocá-las em dia em prazo razoável, cerca de três anos. E, no período, resolver pelo corte de gastos.
– Se for um plano coerente, o mercado vai entender. Aumentar imposto é a única opção quando se está quebrado em dólar. Não é o caso, tem dólar sobrando.
O especialista pondera que um governo que pretender ser de “salvação nacional” não pode começar com sinal contrário. Henrique Meirelles, um dos cotados para um ministério Temer, disse que elevar ou criar imposto “talvez seja necessário, mas claramente temporário”. Outro ministeriável, Marcos Lisboa, ponderou que quanto mais o ajuste demora, mais caro fica. Os sinais vêm sendo dados, mas ainda não há consenso. Velloso resiste.