Se o mercado financeiro não está tão animado quanto se supunha com o avanço do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, há outro em pior situação, o de trabalho. Os dados apontados nesta quarta-feira pelo IBGE – instituto ligado ao governo federal, é bom lembrar – apontaram duas marcas que não se esperava atingir tão cedo: desemprego acima de 10% e contingente de desocupados superior a 10 milhões.
O avanço do problema era previsível, mas preocupa pela rapidez: na mesma época do ano passado, a taxa era de 7,4%, então havia 7,4 milhões de desempregados – hoje são quase 3 milhões a mais. Parte desse contingente é formado por pessoas que antes não buscavam colocação, mas mesmo com uso intensivo de mecanismos para tentar evitar cortes, como layoff e o Programa de Proteção ao Desemprego, o mercado de trabalho perdeu 1,367 milhão de postos com carteira assinada no período de 12 meses.
Embora a redução de quadro seja mais intensa na indústria, com encolhimento de 1,4 milhão de vagas, outros segmentos registram enxugamento severo, como a redução de 809 mil pessoas no setor de serviços e até uma diminuição pouco usual de 335 empregos em administração pública, defesa, educação, saúde e serviços sociais.
Da intensidade e da duração do período de aumento do desemprego depende o tamanho e a profundidade da crise. Se a desconfiança desencoraja o consumo, a falta de um trabalho remunerado o inviabiliza. E os que mantêm a atividade assistem a uma severa erosão do poder de compra: o rendimento real teve queda de 3,9% no trimestre.
Do lado da economia real, o desemprego é o problema que exige respostas mais rápidas, exatamente por seu poder de deteriorar um cenário já difícil. Sem consumo, as fábricas não produzem e sem ativação das máquinas as perspectivas de realimentação desse círculo negativo só se aprofundam.