Com o senso de urgência que a situação do país exige, começa a se delinear o plano econômico para um cada vez mais provável governo Michel Temer. O ponto de partida é o corte de ministérios – o número final ainda varia, conforme o interlocutor, entre 25 e 20. É uma solução?
Do ponto de vista orçamentário, não, porque a economia não chega a R$ 500 milhões ao ano, mesmo incluída a redução de cargos em comissão. Mas é um sinal do desejado deslocamento do motor da economia do poder público para o setor privado, especialmente entre empresários.
Entre manter os aliados no topo da cadeia do PIB e perder popularidade com revisão de programas sociais, Temer já sinalizou a preferência: pretende fazer um pente-fino em programas como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida.
Interlocutores do possível futuro presidente ainda dos tempos em que ele reclamava ser um "vice decorativo", empresários sabem que ele não pode virar o transatlântico da economia brasileira entre maio e junho. Mas já apontam as medidas, construídas a muitas mãos para entrar no programa Uma Ponte para o Futuro, que não podem faltar na virada de chave que pode ser dada a partir de 11 de maio.
Na lista de prioridades dos novos protagonistas do desenvolvimento, há quatro prioridades – considerado o tamanho do problema, até não tão ambiciosas: unificação de PIS/Cofins, sem aumento de tributação, simplificação do emaranhado em torno da cobrança de ICMS, reforma da Previdência e permissão para que negociações diretas entre sindicatos e empresas possam prevalecer sobre a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Claro que há mais reivindicações e variação no grau de prioridade conforme o interlocutor, mas esses são pontos sobre os quais há razoável consenso do lado privado do balcão. No ano em que a geração de riqueza no país, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), caiu 3,8%, a carga tributária avançou 0,28 ponto percentual, para 32,71%, conforme cálculo do Tesouro divulgado ontem.
Para desarmar a estrutura que pesa sobre contribuintes em geral e na atividade produtiva em particular, Temer conta com apoio parlamentar que faltou à presidente Dilma Rousseff. Será curioso observar uma nova reviravolta dos papéis de apoio e de oposição às mesmas medidas. Todos sabem o que fazer. Difícil é garantir que seja feito.