Na semana em que os brasileiros ficaram sabendo quanto já perderam, e tiveram um vislumbre de quanto ainda podem regredir neste 2016 que começou pior do que o ano passado, o mercado financeiro teve o melhor período de cinco dias úteis desde 2008. Descolamento? Miopia? Menosprezo à realidade?
Tudo isso junto, somado à a característica essencial do mercado, que é de agir com foco no curto prazo, não no longo. Não faltou quem tenha lido, na alta do Ibovespa e no recuo do dólar, sinal de que bastou a Operação Lava-Jato oficializar seu alvo – no caso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva –, para a situação da economia “melhorar”. Se o mercado pode ser vesgo, convém adotar uma lente de correção na vida real.
Nada melhorou e, inclusive, pode piorar, caso prevaleça a ameaça da oposição de boicotar todas as votações no Congresso para pressionar pelo impeachment. A essa altura, não há assunto proibido no Brasil. Nem a responsabilidade de Lula, nem a eventualidade de que sua sucessora, Dilma Rousseff, não consiga cumprir o mandato. Mas as armas para lutar por determinado resultado podem ter efeito de destruição em massa. A cada semana, aumenta o número de empresas em dificuldades e, com isso, cresce o risco de que o desemprego atinja patamares ainda piores.
O que a economia real precisa, mais do nunca e com a maior rapidez possível, é de medidas de correção. Perdemos dois meses, entre férias e recessos. Está na hora de agir, e rápido. Escolher a piora da economia como instrumento político deslegitima quem usa essa estratégia. Como acreditar na intenção de corrigir rumos de quem aposta com a vida dos outros?
E equívocos na leitura deste momento não têm distinção de lado: erra o governo, ao subvalorizar a gravidade da situação, erra a oposição, ao apostar no quanto pior, melhor. A crise econômica é irmã da crise política, mas uma não ajuda a outra, neste momento. A busca da saída política não pode agravar a crise que afeta de grandes empresas a profissionais menos qualificados em busca de oportunidades no mercado. O preço pode ser uma herança ainda mais difícil de administrar.