Foi um dia de tempestade perfeita no mercado: o temor do efeito Lula no ministério, o cenário externo desfavorável – lá fora, bolsas caíram e o dólar se valorizou frente a várias moedas –, a safra de balanços com maus resultados e a "delação democrática" de Delcídio Amaral. Mas o que predominou nesta terça-feira – o mercado brasileiro tem reagido com mais força à cena política interna – foi mesmo a confusão provocada pelas citações de A a Z na delação de Delcídio.
– Ele implicou todo mundo, o que torna o cenário mais complexo – avalia André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.
Ação que mais sofreu, a do Banco do Brasil despencou 21,17%, afetada por uma combinação de fatores que vão da menção na delação à perspectiva de redução de juro aberta com Lula no ministério. Perto disso, a queda de 10,67% da Petrobras foi "normal". Mas se a delação fragiliza o governo, porque então o mercado não reagiu ao longo do dia?
Na visão do mercado, a metralhadora giratória de Delcídio, que citou os peemedebistas Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, além do tucano Aécio Neves – para ficar na "linha de sucessão" –, bagunça o cenário que havia ficado mais claro a partir do último domingo, com os investidores mais interessados em saber quem seria o ministro da Fazenda de Temer.
– A sensação é de que algo vai acontecer logo, mas ninguém sabe exatamente o quê. Sem saber exatamente o que fazer, não tem clima para ficar comprando – explicita Perfeito.
Se o nível de incertezas na economia era alto até esta terça-feira, os movimentos mais recentes abriram novas interrogações, da composição do ministério à política econômica, da possibilidade de apontar saída rápida para o desgaste do governo a quantas etapas faltam para isso.