No final do ano passado, era comum ouvir, em conversas com empresários, a preocupação com o tamanho do desemprego que se seguiria à falta de sinais de recuperação da economia. Embora em 2015 tenha se falado muito em crise, seus efeitos mais visíveis só começam a surgir agora. Os dados do IBGE mostram que 9,6 milhões de brasileiros estavam sem emprego na virada do ano, o que representa aumento de 2,8 milhões de pessoas em relação ao mesmo período do ano anterior. Desse total, é possível separar 1,8 milhão que passaram a buscar trabalho como forma de tentar equilibrar o poder de compra e recuperar o nível de vida, mas 1 milhão foram vagas efetivamente cortadas.
A maior parte desse enxugamento foi feito na indústria, que já tropeçava em dificuldades há mais tempo. Diante da evidência de falta de perspectivas, não há outra alternativa senão ajustar. Um dos problemas para dimensionar o estrago no mercado de trabalho a longo prazo é a falta de constância das estatísticas sobre desemprego. Mesmo índices de longa trajetória têm mudanças de metodologia, o que atrapalha a comparação.
Mas mesmo mesclando duas formas de medição do IBGE, a pesquisa mensal e a Pnad Contínua, é possível perceber a disparada nos cortes entre o início de 2015 e igual período deste ano. Além de ser o sinal mais evidente e mais lamentável da crise, o desemprego embute o risco da realimentação. Com menos postos de trabalho abertos e o ameaça crescente de novos cortes, há menos renda disponível e ainda menos apetite por consumo. E essa trava não é removida por oferta de crédito, já que não há certeza de poder honrar empréstimos. Se os índices já foram mais altos, como mostra o gráfico abaixo, não é motivo para alívio. O risco é de que o desemprego siga crescendo.