Um dos preços mais afetados pela reação do mercado à evolução da crise política, a cotação do dólar desceu nesta sexta-feira à mínima dos últimos seis meses, abaixo de R$ 3,60. Parecia impossível, depois de ter ultrapassado a barreira de R$ 4, que voltasse tão rápido.
Mas é exatamente a alta na cotação da moeda americana que tem rendido as melhores notícias para a macroeconomia no Brasil. O ajuste nas contas externas, na avaliação de analistas, tem sido mais intenso que o esperado. Instituições financeiras já projetam superávit na conta corrente (balanço de toda entrada e saída de divisas) em 2017.
O resultado positivo nas contas públicas, por exemplo, parece mais distante. Com o recuo na cotação em reais, há dúvida sobre rentabilidade e sustentação das exportações que começaram, enfim, a reagir, animando a produção industrial gaúcha.
Só em nove dias úteis de março, o dólar já acumula recuo de 10%. É um reflexo da volatilidade, mas é uma mudança significativa de patamar, com potencial de afetar negociações. Essa, inclusive, é a grande inquietação dos exportadores: dólar subindo é bom, mas cotação oscilante não ajuda a fechar negócios.
Analistas de mercado chegam a projetar que, em caso de impeachment, o dólar fique abaixo de R$ 3,50. Até quem tem visão de mais longo prazo projeta redução na cotação até o final do ano, mas mais discreta. Quem projetava a moeda americana em R$ 4,50, por exemplo, sinalizou uma redução leve, para algo em torno de R$ 4,35.
Sobre isso, há um ditado que “taxa de câmbio é uma invenção de Deus para humilhar economistas”, ou seja, é uma das variáveis de comportamento mais difíceis de projetar. O que não quer dizer que eles não tentem.