A crise começa a mostrar os danos que impôs aos balanços das empresas brasileiras. As 30 maiores companhias em valor de mercado que divulgaram os seus números de 2015 até sexta-feira apresentaram um lucro somado de R$ 67,41 bilhões, 33,76% abaixo do que obtiveram no ano anterior, mostra levantamento feito pela coluna. O resultado tem uma forte influência da mineradora Vale, que amargou pesado prejuízo de R$ 44,2 bilhões, mas, em regra, os desempenhos têm sido considerados decepcionantes, por virem inferiores aos esperados pelo mercado.
Do grupo de 30 empresas, 22 conseguiram aumentar o lucro, mas quatro delas com alta abaixo da inflação. E o resultado da última linha dos balanços, lembra o analista-chefe da Geral Investimentos, Carlos Müller, nem sempre é o mais importante. Apenas 13 conseguiram entregar números acima da expectativa de investidores.
- Em temporadas de balanços, além do lucro líquido, costuma ser observado o desempenho operacional das empresas, pois, muitas vezes, o lucro pode ser inflado ou prejudicado por itens financeiros ou não recorrentes. Também são consideradas as sinalizações que as empresas passam com relação aos períodos futuros. Não basta o lucro crescer, mas sim superar as expectativas para que o resultado seja considerado bom - explica Müller.
Os bancos, que costumam se dar bem em qualquer cenário, também divulgaram, em média, lucro abaixo do esperado. A exceção foi Itaú Unibanco, segunda maior empresa em valor de mercado no país, que viu o ganho subir 15%, para R$ 23,35 bilhões, maior soma entre as empresas brasileiras.
O mesmo pode ser verificado no setor de consumo, que conta com empresas dos mais variados segmentos, desde farmácias a frigoríficos. Os lucros vieram 6% abaixo do projetado. As companhia de materiais básicos, onde estão incluídas petroquímica, mineração e papel e celulose, também mostraram resultado líquido 7% aquém das expectativas, aponta a Geral Investimentos. Nem a Ambev, empresa brasileira mais valiosa e considerada exemplo de gestão, conseguiu empolgar. O lucro teve crescimento tímido de 3%.
Como o mercado também está sempre mais atento ao que vem pela frente em relação ao que ficou para trás, as perspectivas para 2016 - por enquanto nada animadoras - também entram no radar. Müller lembra que poucas companhias esperam crescimento neste ano e a palavra mais utilizada nas teleconferências com analistas e investidores para avaliar resultados e projetar o ano é "ajuste".
*Interino da coluna +Economia