O presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, vai para a terceira semana seguida de peregrinação por gabinetes de ministros e parlamentares em Brasília. A marcação cerrada nos bastidores tem um motivo importante: nos próximos dias, entre sexta-feira e o fim da próxima semana, o governo brasileiro decide se mantém a aplicação da sobretaxa de US$ 13,85 por par para importação de calçados chineses, válida desde 2010. A posição pode sair ainda na sexta-feira, durante reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex).
Para Klein, se forem observadas apenas questões técnicas, a medida antidumping será mantida. Mas, mesmo confiante, o setor mantém um pé atrás.
Ano começa com otimismo para calçadistas
- Risco sempre existe. Há muitas variáveis em jogo. A China é um importante parceiro comercial do Brasil - observa Klein, dando uma pista do que preocupa a indústria calçadista.
Mesmo que o câmbio esteja longe do patamar da época, o receio do setor é voltar a sofrer a forte concorrência do calçado chinês, que chegava ao Brasil a preços abaixo em relação aos praticados pelo mercado. A adoção da sobretaxa, depois, brecou a invasão asiática, mesmo que nos primeiros anos os exportadores do outro lado do mundo tivessem adotado a estratégia da triangulação, inundando o mercado interno com produtos fabricados em outros países, como Indonésia e Malásia.
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Conforme a Abicalçados, um ano depois da adoção da sobretaxa, a produção nacional pulou de 800 milhões para mais de 900 milhões de pares, com reflexos na geração de vagas de trabalho. A preocupação agora é com uma nova invasão de importados, em regra mais baratos, ao mesmo tempo em que o mercado interno não passa por bom momento.
Um ano antes de a medida ser adotada, as importações de calçados da China chegaram a US$ 183,6 milhões, 70% de tudo o que o Brasil comprava do Exterior. Após a sobretaxa, o valor caiu para US$ 54,9 milhões, e os chineses passaram a responder por apenas 18%. No ano passado, foram US$ 45,9 milhões.
*Interino da coluna +Economia. A titular, Marta Sfredo, está em período de férias.