A receita do medo generalizado que percorre todos os mercados parece ter um novo ingrediente somado a cada semana. Não bastasse a desaceleração da China, que derruba as cotações das commodities, os preços do petróleo ladeira abaixo, também puxados por interesses geopolíticos, e as dúvidas sobre o juro nos Estados Unidos, o pânico ganhou agora o fermento da incerteza quanto à saúde de grandes instituições financeiras da Europa e uma pitada de desconfiança quanto à capacidade dos bancos centrais de reanimarem a economia. Nos últimos dias, Japão e Suécia apelaram para juro negativo e a hipótese passou a ser considerada até pelos EUA.
Atormentados pelas dúvidas, os investidores correm para se desfazerem de ativos de risco, como ações, e migram para a segurança do dólar e do ouro. Após um breve refresco na Europa na quarta-feira, nesta quinta todas as principais bolsas voltaram a sofrer fortes quedas. No Brasil, o índice Ibovespa caiu 2,62% e a moeda americana se valorizou 1,22%, fechando a R$ 3,98.
Também na busca por compreender melhor o alvoroço, o professor de finanças da ESPM e diretor técnico da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais/Extremo Sul (Apimec-Sul), Marco Antônio dos Santos Martins, conta que, nos últimos dias, tem contatado conhecidos que trabalham em grandes bancos estrangeiros, na linha de frente das mesas de operações, mas ouve apenas que há medo no mercado – um ente refratário a incertezas.
– Me parece que o mercado está exagerando na dose. Os bancos centrais já foram testados em outros episódios e mostraram força suficiente para manter a liquidez do sistema financeiro – diz Martins, que também não concorda com o risco da quebra de um grande banco, como o Lehman Brothers, em 2008.
Para Martins, o preço baixo do petróleo tem como subproduto menor inflação no mundo, o que torna ainda mais razoável os bancos centrais lançarem mão da injeção de recursos para tentar devolver ânimo às economias. A experiência de mais de três décadas acompanhando o mercado financeiro também leva Martins a especular uma resposta mais simples: como as bolsas – com o Brasil entre as exceções – subiram muitos nos últimos anos, o mercado poderia apenas ter uma boa desculpa para realizar gordos lucros.
O gatilho para começar a reverter o mau humor seria um acordo para reduzir a produção de petróleo e reequilibrar oferta e demanda – justamente o rumor que surgiu no final da tarde.
* Interino da coluna +Economia. A titular, Marta Sfredo, está em um período de férias.