Se há ceticismo sobre a eficiência do pacote de R$ 83 bilhões em crédito desembrulhado quinta-feira pelo governo federal, também não será essa iniciativa que vai aprofundar o buraco da economia. Ainda há dúvidas sobre a origem dos recursos – boa parte seria lastreada no lucro contábil e virtual do Banco Central – e outro tanto de incertezas sobre o destino – a dúvida sobre se o cavalo, uma vez com acesso à água, vai beber.
Mas basta um olhar mais atento ao risco que ronda pequenas e grandes empresas para verificar que a oferta de crédito faz sentido nesse momento delicado. Como parte dos recursos irrigaria o capital de giro de empresas, esse crédito pode representar a diferença entre o encerramento e a manutenção de de operações, ou mais ou menos desemprego. É o plano mais bem acabado da história da República?
Longe disso. Mas talvez seja uma das poucas alternativas que restaram. Especialistas temem o efeito inflacionário da injeção de recursos, especialmente porque muitos avaliam que o governo federal está, pura e simplesmente, “imprimindo dinheiro”. Para um país que fechou 2015 – soube-se ontem – com déficit primário (sem contar os juros da dívida) de R$ 111,25 bilhões, ou 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB), representa mais risco.
Mas o mercado esnobou esse risco novamente ontem, em um sinal de que o pacote não caiu assim tão quadrado. A bolsa havia subido discretamente na quinta-feira, mas ontem deu um salto de 4,6%, que não se via há mais de dois meses. Não é só alegria com o Planalto, claro. Diante do cenário internacional, a decisão do Japão de entrar em juro negativo – desafiando quem não vê crise global – representou alívio, assim como a recuperação parcial do preço do petróleo.