Houve esforço para evitar a sensação de déjà vu, mas é difícil contornar comparações entre a “nova matriz econômica” e o pacote de emergência antirrecessão desembrulhado nesta quinta-feira . Resumo da ópera: mais crédito agora, esforço de responsabilidade fiscal e reformas estruturais, depois.
Como a combinação da freada na alta do juro e a adoção de estímulos havia despertado o eco da estratégia malfadada, deu tempo de providenciar antídotos, como a promessa de estudo de bandas fiscais – limites para o gasto público – e de envio da reforma da Previdência ao Congresso ainda neste semestre. Mas ficaram na intenção, ao menos por enquanto. A alocação da maior parte dos recursos para a infraestrutura (R$ 22 bilhões) é correta. O problema, outra vez, é a fonte do dinheiro.
Boa parte dos R$ 83 bilhões com os quais o Planalto acenou ontem tem origem na quitação das pedadalas fiscais. A fonte desse pagamento é atribuída por especialistas como Raul Velloso ao lucro contábil do Banco Central, fruto da valorização das reservas internacionais. Ou seja, virtual.
Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, que vem sendo parceiro neste segundo mandato de Dilma Rousseff, sustenta que esse aumento de crédito não vai pressionar a inflação porque só vai “ajudar a parar de piorar”.
Dizer que o objetivo é político é óbvio, afinal esse é o principal motor das políticas públicas. Mais ainda em um governo sob risco de impeachment. Estancar a queda livre da economia contribui para Dilma a se manter no cargo. Mas se auxiliar os brasileiros a manterem suas empresas ou seus empregos, terá cumprido seu papel.