A matéria começa assim: "A mais longa recessão em um século, o maior escândalo de corrupção da história, a líder mais impopular na memória viva. Esses não eram o tipo de recordes que o Brasil estava esperando para marcar 2016, o ano em que o Rio de Janeiro recebe a primeira Olimpíada na América do Sul. Quando a competição foi destinada ao Brasil, em 2oo9, Luiz Inácio Lula da Silva, então presidente e em sua pompa, assinalou orgulhosamente quão facilmente um florescente Brasil havia superado a crise financeira global. Agora a sucessora escolhida por Lula, Dilma Rousseff, que iniciou seu segundo mandato em 2015, preside diante de uma lista sem precedentes de calamidades".
É mais uma peça demolidora sobre a economia brasileira da revista britânica The Economist, porta-voz das teses liberais. A mesma que, em 2009, fez a famosa capa "Brazil takes off" (Brasil decola) e, quatro anos depois, repetiu a ideia da capa indagando "O Brasil estragou tudo?" (veja abaixo). Agora, sem ponto de interrogação, crava, sobre o mesmo país: "Irredeemable" (Irredimível). É um bom trocadilho com o Cristo Redentor, mas a escolha de palavras chama atenção. Passa a impressão de que a publicação, por sua vez tenta se redimir de ter promovido a reabilitação do Brasil muito cedo e com excesso de entusiasmo, e agora usa o mesmo excesso para inverter o discurso. É óbvio que o Brasil está em crise. É certo que tem desafios monumentais à frente. Mas daí a não ter redenção, sem ponto de interrogação, soa a exagero provocado por desconhecimento. Sem contar a insistente referência ao Cristo Redentor.
O que mais diz a Economist? Relativas obviedades e alguns equívocos ...
Dilma Rousseff provavelmente sobreviverá às tentativas de impeachment, mas economia vai encolher pelo segundo ano consecutivo e até o final de 2016 deverá ser 8% menor (sim, 2016 será de recessão, mas ainda não há sinais de que a queda acumulada chegue a 8%) do que era no primeiro trimestre de 2014.
O desemprego será superior a 10% e a inflação vai ficar teimosamente acima da meta de 4,5% do Banco Central. E comenta: "Qualquer país em que é difícil dizer a diferença entre a taxa de inflação - que está em dois dígitos - e o índice de aprovação do presidente - atualmente em 12% e que chegou a um dígito – tem sérios problemas”. A observação é óbvia, mas ao menos tem uma boa sacada...
As investigações sobre os subornos, centradas na Petrobras, continuarão a fazer "ruído surdo" (será que o barulho não chegou a Londres?), envolvendo políticos do Partido dos Trabalhadores (PT) de Dilma Rousseff, assim como seus aliados, e distraindo o Congresso da tarefa urgente de reduzir o déficit orçamentário escancarado. Isso representa uma ameaça para a coalizão do governo nas eleições locais de outubro. Mais obviedades...
O Rio vai oferecer um belo show esportivo, embora as águas ainda sujas da Baía de Guanabara possam forçar os organizadores das competições de vela a mudar de lugar. Menos mal, aqui houve certa cautela, já que a Economist foi uma das muitas publicações internacionais que anunciou o fracasso na organização da Copa do Mundo. Errou. Ao menos, na organização...