Na terça-feira, Marcelo Portugal, consultor econômico da Fecomércio-RS, afirmara, ao apresentar as projeções para 2016, que tinha muito medo das consequências econômicas de um impeachment – no início do ano:
– A situação se deteriorou tanto que já não parece tão ruim.
Portugal considera o plano apresentado pelo PMDB – leia-se Michel Temer, o eventual substituto de Dilma Rousseff – “todo certinho”, com medidas na direção certa.
Não vai faltar quem comemore a vingança de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Mas não há unanimidade. Julio Sergio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda na gestão Guido Mantega – que deixou o cargo por incompatibilidade com o ministro – avalia que o impacto econômico da abertura do processo ainda pode sim, piorar o que já está ruim.
– É um processo delicado, instável e longo – argumenta.
Gomes de Almeida lamenta que a decisão tenha sido tomada justo no dia em que surgiu um lampejo de consciência, no Congresso, de que é preciso separar a economia da política, com a aprovação da permissão para o governo fechar o ano com rombo de quase R$ 120 bilhões. A medida permitiria levantar o bloqueio de R$ 11,2 bilhões em gastos do governo federal que ameaçavam paralisar serviços públicos.
– Seria um alívio, um bom sinal. Agora, é preciso impedir que o circo pegue fogo. É preciso blindar, isolar a economia da política, separar o inseparável. Vamos nos arrepender muito se não conseguirmos bloquear os efeitos dessa instabilidade.
Além de ampliar a incerteza sobre o futuro da política e da economia, a decisão de Cunha abre uma guerra que não terá trégua na virada do calendário. Melhor reforçar os tradicionais pedidos de paz de final de ano.