Foi uma das últimas frases da curta entrevista concedida pelo novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, no início da noite desta sexta-feira. Ao ser diretamente perguntado se, formalmente no comando da equipe, reproduziria as diretrizes da ''nova matriz econômica'', rebateu que não quer debater sobre ''rótulos, estereótipos e caricaturas''. Disse que o papel do governo não é defender ou refutar teses. E fez o discurso mais austero possível, afirmando que o reequilíbrio fiscal é condição necessária para a recuperação e o crescimento.
No governo anterior, Barbosa participou das diretrizes da ''nova matriz econômica''. Saiu do governo exasperado com Guido Mantega e foi para a Fundação Getulio Vargas, onde assumiu discurso mais ortodoxo e passou a defender a necessidade de ajuste.
A pergunta que ficou sem responder foi: então porque fazer uma mudança na equipe econômica, se o discurso é de continuidade? Uma das explicações é o fato de que, na prática, Barbosa vai assumir de direito um papel que já exercia de fato: ter a última palavra nas decisões de política econômica. E seu estilo é claramente mais suave do que o do antecessor. E aí abre-se outra questão: se a situação do Brasil combina com gradualismo. Com grande afinidade com a presidente Dilma Rousseff, Barbosa vinha ganhando todas as batalhas que disputava com Joaquim Levy.
A combinação entre Dilma e Levy, de fazer a mudança só depois do fim do ano, foi para o vinagre quando o agora ex-ministro da Fazenda ''deixou escapar'' na última reunião do ano do Conselho Monetário Nacional que estava se despedindo. Saiu dizendo que não se sentia traído, mas ''decepcionado''. Foi elegante até o fim, ao menos em público.
A missão de Barbosa será adoçar o discurso duro de Levy, que só falava em cortes, ajustes, impostos. De formação tão desenvolvimentista quanto a da presidente Dilma, o novo ministro não terá dificuldade para fazer esse papel. Mas será encarado com extrema desconfiança pelo mesmo motivo. Antes de pensar em retomada, é preciso completar o desmonte das armadilhas que levaram o Brasil a essa crise de dimensões ainda desconhecidas.
Mesmo deixando o anúncio oficial para depois do fechamento do mercado, a bolsa caiu quase 3% e o dólar subiu para R$ 3,95. Na segunda-feira, a reação será tão moderada quanto mais os investidores conseguirem digerir e entender o alcance das mudanças que sua ascensão ao cargo representa.
Maior surpresa foi o substituto de Barbosa: sem escolha fora do governo, a solução foi Valdir Moysés Simão, que estava na Controladoria-Geral da União (CGU) desde janeiro. Burocrata típico, estava descontente com o esvaziamento da CGU e havia até se aposentado.