Sem reivindicações muito claras, um grupo de caminhoneiros, não vinculado às estruturas sindicais tradicionais, ameaça fazer um movimento político e parar totalmente o trânsito de caminhões. O objetivo, segundo líderes dessa mobilização, seria provocar a deposição da presidente eleita.
Greve dos caminhoneiros terá pelo menos 10 pontos de paralisação no RS
Pior do que um país mal governado é um país exposto a esse grau de voluntarismo e chantagem. E justo quando o movimento de final de ano representava uma expectativa, se não de melhora, ao menos de uma possibilidade de compensar, em parte, um ano muito ruim para a maioria das empresas.
Bem mais da metade do transporte de cargas no Brasil é feita por via rodoviária (cerca de 65% do total, quando, na década de 1950, mal chegava a 40%). Se isso torna poderoso um grupo que ameaça não deixar caminhões trafegarem em qualquer estrada, por outro lado pode acentuar a já desenvolvida consciência de que esse excesso de dependência de pneu e asfalto não é saudável.
Greve dos caminhoneiros pode ter carreatas em rodovias e municípios
Estudo do BNDES da década de 1990 mostrava, quando o país ainda nem havia ultrapassado os 60% de concentração, que essa participação era disfuncional e desconectada. Na época, a fatia rodoviária em países desenvolvidos era de 30%, e em países subdesenvolvidos mal chegava a 50%.
Saiba o que muda com a nova Lei dos Caminhoneiros
No passado, paralisações como a que foi organizada para começar nesta segunda tiveram como consequência alguns avanços para os caminhoneiros, mas também episódios de violência e ataques a quem só queria fazer seu trabalho. Respeitar o direito de lutar por melhores condições de trabalho pressupõe saber usá-lo. É falha coletiva de todos os últimos governos a incapacidade de tirar do papel os planos de infraestrutura que se sucederam só na intenção da multimodalidade (uso simultâneo de rodovia, ferrovia, hidrovia, dutos e transporte aéreo). Usar o poder da concentração pode ser um furo no pneu para os caminhoneiros. Governo ruim deve ser substituído no voto. E de todos, não de uma categoria ou de um setor da economia.
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