Na semana em que teve intensa agenda em Porto Alegre, com várias reuniões e debates no meio empresarial, o ex-secretário da Fazenda e atual diretor do banco BTG, Aod Cunha, deixou um recado a seus interlocutores: prestem atenção ao capital chinês. Aod relatou que era voz isolada no banco há até pouco tempo, mas convenceu os colegas de diretoria de que, apesar do crescimento menor e incerto – há dúvidas sobre o real ritmo do PIB chinês –, o país pode ser um aliado importante do Brasil.
Em primeiro lugar, por que os chineses têm o maior interesse em manter boas relações com um de seus principais fornecedores de commodities, especialmente soja e carne. Em segundo, porque é de onde pode vir o maior interesse – e capacidade de investimento – em projetos de infraestrutura que irão a leilão no próximo ano. Em terceiro, por queo Brasil sempre pode aproveitar a aproximação com a China para pressionar outros parceiros, como Europa e Estados Unidos.
O certo otimismo de Aod em relação ao dragão asiático, que neste ano foi fonte de incertezas ao redor do mundo, contrasta com o ceticismo em relação ao Brasil. As projeções do BTG para o PIB estão em queda de 3,2% neste ano e mais 2% no próximo. A título pessoal, o ex-secretário considera benigna a estimativa para 2016. Reserva suas esperanças para o cenário em que a situação piore tanto a ponto de destravar as reformas estruturais adiadas no período de bonança. Lembrou que a Lei de Responsabilidade Fiscal, o sistema de metas de inflação e o regime de câmbio flutuante só surgiram depois da severa crise de 1999.
No conjunto de incertezas que paira sobre a economia mundial e nacional, Aod considera cada vez mais provável a alta do juro nos Estados Unidos na reunião do Federal Reserve do dia 16 de dezembro. Mas não teme “efeito Volcker” – uma elevação forte e brusca, que desestabilize economias emergentes como ocorreu nos anos 1980.