Da série empreendedores da crise: a Hart’s, de Pareci Novo, não nasceu para superar desafios econômicos, mas pessoais. Milos Holovsky, australiano de origem tcheca, e a gaúcha Raquel Hartmann se casaram em Londres. Tudo ia bem até Milos descobrir um câncer. A cura passou pela mudança na alimentação. Inspirada no gosto do marido por uma sobremesa britânica – dates pudding –, Raquel desenvolveu barrinhas à base de tâmaras. Os amigos gostaram, amigos dos amigos pediram para comprar.
Para completar a cura, o casal veio ao Rio Grande do Sul atrás uma vida mais simples e saudável. Chamaram Sabrina, irmã de Raquel, para ajudar e criaram a empresa. Uma das primeiras decisões foi ter produção artesanal: são 29 funcionários. E com embalagens transparentes, para mostrar que o produto é diferente dos que dominavam o mercado.
A Hart’s chamou a atenção de fundos private equity (que entram com participação acionária como forma de capitalizar o negócio), que queriam injetar recursos e dar escala à empresa. A oferta foi declinada.
– Recebemos propostas de fundos de private equity que queriam colocar dinheiro na empresa, mas declinamos. Teríamos de nos mudar para São Paulo e abrir mão do estilo de vida que nos fez criar os produtos. Vamos crescer, mas de forma orgânica, que garanta controle da produção e assegure a escolha de uma vida mais simples e natural, como nosso slogan, que é take it easy: menos trabalho, mais vida. Compramos um terreno para unir a área de produção e administração – explica Holovsky.
Como sinal de que abdicar de crescimento acelerado não é falta de ambição, a Hart’s está lançando novos produtos, a linha Be Nuts, com sementes de abóbora. Boa parte dos ingredientes – tâmaras, macadâmia, gojiberry, cranberry, chia, amaranto – é importada, o que tem pressionado o custo da empresa, relata Holovsky. A empresa nascida em 2010 está “lutando” como todas as demais, diz seu criador. Escolheu não ser gigante, mas do tamanho certo.