Embora tudo possa acontecer no país em que os candidatos discursam sobre resultados que, oficialmente, não conhecem, a tendência de vitória do candidato da oposição na Argentina animou mercados dentro – a pouco relevante bolsa local subiu 6% – e fora do país – papéis de empresas argentinas negociados em Nova York deram saltos de 20%.
A Associação Empresarial Argentina (AEA) divulgou nota em que praticamente abre apoio a Maurício Macri, um dos ''seus''. Antes de virar político, Maurício era mais conhecido como herdeiro do Grupo Macri, forjado por Franco, seu pai, imigrante italiano.
Mas o apoio empresarial pode ser também seu calcanhar de aquiles, como indicado no primeiro discurso do oponente e esperança de manutenção do ''projeto'' kirchnerista. Daniel Scioli já sacudiu o espantalho de Carlos Menem. O Grupo Macri foi um dos grandes beneficiados pela política de privatizações do governo Menem. O herdeiro seguiu caminho próprio, mas se beneficiou do movimento.
Enrique Saravia, argentino que atuou como professor da Fundação Getulio Vargas e hoje está na Colômbia, considera improvável que Macri repita a receita de Menem. Pondera que as privatizações foram feitas ''a qualquer preço'' e ''a toque de caixa'', condicionadas pelo momento histórico. Conforme Saravia, a maior mudança, com Macri, seria nas relações internacionais, com mais pragmatismo e menos ''mesquinharia'', como carateriza a proteção comercial de Cristina Kirchner em relação do Brasil. Pondera que não há condições para uma virada drástica. Uma das maiores inquietações é se as reservas internacionais duram até o final do ano.
No país da opacidade econômica, em tese existem US$ 27 bilhões, mas boa parte estaria comprometida ou bloqueada. Isso impediria Macri de cumprir a promessa de remover restrições à compra de dólares, hábito muito argentino. Saravia relata que amigos e familiares reclamam muito, mas vivem bem. E pondera, sobre Argentina – e sobre Brasil:
– O país é maior do que o buraco.