Sexta-feira, duas da tarde. Escrevo para vocês aqui da minha sala, voltada para a ensolarada Avenida Ipiranga. Apesar do céu azul, o dia está tenso.
A semana toda foi sobrecarregada, com o julgamento no STF e a decretação da prisão de Lula. Tento me concentrar aqui neste texto, mas confesso a vocês que está bem difícil. Um olho na Globo News, outro na tela de GaúchaZH, ora aumentando o volume da Rádio Gaúcha, ora o volume da TV.
Henrique Meirelles anuncia a saída do Ministério da Fazenda. As coisas seguem acontecendo, e nesta tarde há a expectativa: Lula vai se apresentar ou não à Justiça? A jornalista Andressa Xavier acaba de mandar mensagem no grupo de WhatsApp: "Movimentação no sindicato. Lula fala a qualquer momento".
Há poucos minutos, preocupada com a segurança das nossas equipes em Brasília, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, comecei a ligar para os repórteres que estão em campo. Nas últimas horas, jornalistas foram atacados em todo o Brasil. Equipes do jornal Correio Braziliense, do SBT, do Estadão e da agência Reuters foram hostilizadas. Associações de imprensa emitiram nota conjunta de repúdio às agressões sofridas por jornalistas que faziam a cobertura de manifestações pró-Lula. Eduardo Matos, repórter da Gaúcha, presenciou as intimidações a repórteres na frente do mesmo sindicato durante a madrugada de quinta para sexta-feira. Com outros colegas jornalistas, todos ameaçados aos gritos de "mídia golpista!" e "mídia fascista!", teve de entrar no sindicato, onde ficaram o restante da noite em uma sala do terceiro andar.
Abalados com o risco de prisão de Lula, alguns de seus apoiadores descontam em quem traz a notícia, já que não conseguem mudar os fatos. Não percebem que atacar a imprensa é atacar o próprio público, em seu direito à informação.
Ligo para a jornalista Juliana Bublitz, de plantão em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Paulo. Ela me tranquiliza pelo telefone:
– Estou bem, não te preocupa.
Ligo também para o repórter Fábio Schaffner e o fotógrafo Lauro Alves, que estão em Curitiba, na Superintendência da Polícia Federal.
– Trouxemos capacetes e máscaras de gás – me informa o experiente Fábio.
Há alguns anos, disponibilizamos para os jornalistas esse tipo de equipamento. Também temos coletes à prova de balas, para coberturas em batidas policiais, por exemplo. Que país.
Caroline Torma, gerente de Comunicação da RBS, me envia mensagens falando do Dia do Jornalista, celebrado neste sábado. Ela está preparando um anúncio para os jornais deste fim de semana. Eu tinha me esquecido da data. Penso nos mais de 200 jornalistas desta redação. Neste momento. Aguerridos. Apaixonados por jornalismo. Cientes do seu dever de buscar a verdade, com ética, com muito trabalho. Tenho orgulho imenso desse time. E me emociono com as palavras da Juliana, meio gritadas ao telefone, com o barulho do carro de som ao fundo:
– Marta, estou feliz. Não te preocupa mesmo. Estou onde um jornalista quer estar: assistindo à História acontecer, bem na minha frente.