Essa pergunta, em tom violento, sai da boca de homens incrédulos frente à intenção da parceira de separar-se. Quer dizer: você só pode ser quem eu quero que seja. Isso vem acompanhado da determinação de eliminar a "intrusa", que acha que pode deixá-lo, ter uma vida, outros amores. Todo cuidado é pouco nessa hora.
O Rio Grande do Sul bateu um recorde de infâmia. Ocorreram em janeiro, distribuídos por todo o Estado, 12 feminicídios. Para evitarmos que a tragédia siga, vamos pensar quando a mulher, seus amigos e familiares devem preocupar-se.
Um futuro feminicida não precisa ser um monstro com histórico de violência. Pode ser um desses, mas também há surpresas: ele parecia tão pacato… O perigo é quando visceralmente o homem não aceita a separação. E atenção, conversões rápidas dele ao bom senso podem fazer parte de um plano sinistro.
Há os casos em que o homem ama de uma forma infantil. Espera da mulher o amor incondicional, eterno e devoto, igual ao materno. À mulher caberia suportar qualquer coisa e seguir amando. Ao perdê-la, sente-se desamparado como uma criança. Lembrem, as crianças podem ser extremas no amor e no ódio. É como se a mulher que o deixa matasse a mãe que ele supunha ter em casa.
Em outros casos, a masculinidade de um homem consiste em possuir, nos dois sentidos, sua mulher. Ele sustenta-se como homem por e através dela. Se ela sai de cena, ele sente-se emasculado, sua identidade masculina murcha. Ele passa a fantasiar com os outros que disporão do que ele considera seu. Esse tipo, que costuma ser patologicamente ciumento, já fantasiava isso. Seu controle sobre ela era uma luta imaginária com seus supostos rivais, com quem costumava disputar a posse. Logo, a mulher que o abandona torna-se, para ele, uma mulher que sai com todos, uma prostituta.
A combinação destas duas forças independentes, por um lado o desamparo, onde ele perde o chão, a razão de viver — tanto que alguns suicidam-se —, por outro quando ele perde a masculinidade, traz um desfecho potencialmente letal.
Há outras causas para os esfaqueamentos, tiros no rosto, incêndios, e outras formas de eliminar aquelas que eles dizem amar. O certo é que jamais devemos deixar para depois o alerta frente a qualquer ameaça, atitude suspeita ou comentário que leve a temer um desfecho trágico. Homens "amorosos" têm matado com assustadora frequência.