É complexa, e está para ser feita, a trama que desvenda o que se passa nas escolas. Quais as razões do surto de violência contra elas, professores e alunos? Qual o cerne deste ódio?
Destaco um componente da equação e deixo a vocês julgarem sua força no resultado. Refiro-me à atual raridade da presença masculina entre os professores.
Do ponto de vista cognitivo não há problema. A questão é como se dá o aprendizado na infância, ele passa também pela identificação e está sempre ligado ao amor. Quanto mais se admira um professor, mais fácil é a transmissão. Opera como: eu quero ser como ele ou eu quero que ele goste de mim.
Tudo vai bem nas séries iniciais, onde a mãe é uma presença constante, mas e depois? Certo momento, para alguns meninos - especialmente os carentes de referência masculina íntegra -, o mundo da escola pode parecer um domínio feminino. Na cabeça deles pode engendrar-se a lógica: se quem transmite o saber são mulheres, talvez o universo do saber seja feminino.
Se ele pensar assim, entrará em conflito com a aprendizagem e com a escola. Afinal, ele não se sente representado, não enxerga um lugar para si nelas. Lembrem, eles estão lidando com um dilema, ainda inclemente da nossa civilização: você é homem ou mulher?
Nascemos com uma arquitetura cerebral, que nem sempre coincide com o corpo, e é desta interação com a cultura que nos tornamos algo. Para o bem geral, estamos num momento de transição, caiu o valor em si de nascer homem. Nesta nova configuração, ser homem é algo em construção, sem uma positividade clara, e isso atrapalha muitos meninos. Por brigar com a escola e o saber - por lhes parecer feminino -, parte deles habita um vazio cultural, que os deixa à mercê de saídas simplórias.
Quando um menino não encontra modelos paternos, nem em casa nem na escola, ira procurar isso no pântano da internet. Como não existe resposta fácil, aceita o que lhe é oferecido: o velho orgulho de valer apenas por ser homem. Porém, isso só funciona no seu clube. Fora dele, apela para a macheza e é questionados pelas meninas que abordam. Seu refúgio será partilhar o ódio às mulheres que não aceitam suas bravatas auto-afirmativas.
Muitos psicopatas, antes de cruzarem a linha irreversível da civilidade, nascem de um menino inseguro quanto a sua identidade e que é capturado por um discurso de ódio contra o sistema e as mulheres.