No sonho estávamos na universidade, um clima anos 80. Cláudia Laitano e Carpinejar conversam. Aproximo-me e faço uma pergunta. Os dois respondem. Uma quarta pessoa chega. É um jovem tanto simpático como genérico. Ele dirige-se a mim e diz algo. Vejo o movimento dos lábios mas não escuto, como assistisse a um filme mudo. Entro em pânico, teria ficado surdo? Desesperado, conto o ocorrido aos amigos e sou acalmado por suas vozes. A surdez era restrita ao jovem.
Acordei intranquilo. A interpretação foi fácil porque remete a um dos meus medos. No caso, tornar-me surdo para com as novas gerações. Tanto a Claudia como o Carpinejar, cada um a seu modo, são escritores que apreciam novidades e consomem o que culturalmente está sendo produzido hoje. São sommeliers do agora-agora. Afiam a sensibilidade no gume da atenção aos novos comportamentos.
Invejo a dupla. Não consigo este encaixe com o presente e o negligencio pelo passado. Tendo a viver culturalmente dentro da minha geração. Não sei das músicas que são produzidas hoje, ignoro artistas contemporâneos e figuras importantes das novas mídias. Alguns memes me escapam, nunca sei quem disse o que para quem. Salvo-me pela literatura - mas nem tanto -, pela ciência e pelas teorias da minha área. Mas, se isso me atualiza com o que se anda pensando, não serve para conexão real com os novos atores sociais: os jovens.
Envelhecer não é usar bengala, é ensurdecer-se para o presente e refugiar-se no passado.
Envelhecer é tornar-se ranzinza com o novo. Os sintomas são recusar ou ter medo de novas ideias e tecnologias, aferrar-se ao modo de pensar de quando sua geração reinava. Acreditar que se já se sabe o suficiente, que não há nada digno de alterar sua percepção ou sensibilidade. Envelhecer não é usar bengala, é ensurdecer-se para o presente e refugiar-se no passado.
Somos tanto filhos dos nossos pais, como da nossa geração. Dentro dela estamos tranquilos, analisamos o novo com um arsenal teórico velho, concordamos uns com os outros e nos refestelamos na bolha geracional. O sonho me avisa: mesmo vivo, desse jeito displicente, você está morto para as novas gerações.
Amo e orgulho-me da minha geração. Ela me é uma espécie de pátria. Meu temor é que o conforto dos pares me ensurdeça. Temo parar de aprender com os jovens, cair na armadilha que só supõe sabedoria na maturidade. Temo não entender as palavras de algum jovem que peça minha mão para entrar no complexo e assustador trem da vida.