O primeiro passo é entender o golpe que recebemos. Vivemos um momento duríssimo, um teste para esta geração. Pandemia sempre houve e voltará a acontecer. Esta é a que nos tocou. Não há culpados, é um dos preços da caminhada humana. A natureza tem suas surpresas. A impotência sobre as causas não justifica a inépcia frente à catástrofe.
Segunda questão: sair da negação, despertar e assimilar. Vai ser amargo, você vai perder algo, todos vão perder. Lucro será perder menos. Perderemos tempo, dinheiro, oportunidades, empregos, encontros e, o pior, entes queridos. Alguns ainda negam, para não admitir que vão perder.
Terceiro ponto: ser proativo. Aparentemente a missão seria passiva: ficar em casa. É difícil por não ser heroico. Como se existisse um incêndio e não fizéssemos nada. Mas existe, sim, um grande desafio: manter o moral da tropa. Salvo os profissionais da saúde, que estão no front trabalhando como nunca, nosso dever é para com a retaguarda. Nossa parte é cuidar dos mais frágeis neste momento de desalento. Ajude com decisões, providências, console, ampare os que esmorecem pelo isolamento social.
Quarto mandamento: não iludir-se com a jornada "livre". Alguns ganharam tempo, mas a maioria perdeu. Estão cuidando da casa, dos filhos e/ou dos pais, e ainda trabalhando remotamente. Enfim, mais cansados do que nunca, sem fim de semana, sem trégua e sem ajuda.
Quinto conselho: mantenha a rotina. Se todo dia fosse domingo, não existiria domingo. É no contraste que os dias ganham sentido. Acorde cedo, tire o pijama e faça a cama. Planeje os horários para começar e encerrar as tarefas. Imponha uma disciplina viável para a situação, que seja o mais próximo da vida normal.
Sexta prescrição: sem desespero. Informação é tudo, mas o excesso de informação vira o fio. Grudar no noticiário é uma maneira equivocada de assimilar o golpe e deprime. Mude de assunto, não deixe o vírus colonizar teu cérebro.
Sétima sugestão: não faça das suas redes sociais a grama verde que entristecerá o vizinho. Poste material empático. Não é hora de mostrar que estamos gozando a vida, nem de impor o próprio modo de lidar com o desamparo, ou de negá-lo. As pessoas isoladas estarão pendentes de notícias umas das outras. Nossas casas agora são públicas, nossa privacidade deve ser inspiradora, acolhedora a distância.
Quesito luxo: para quem ganhou tempo livre na crise, invente um projeto. Não precisa ser grandioso, mas factível, ler um clássico, aprender novas receitas, ver uma série, consertar um objeto, retomar um amigo distante. Se sobrar muito tempo, pensar um projeto para dar uma guinada na vida, estudar algo que nunca conseguiu.
Um dia acaba, vamos tentar sair maiores do que entramos.