Sempre tive um pé atrás com utopias. Elas trazem em si uma ideia bacana de reformar a humanidade, mas que sempre dá no seu oposto: o sonho vira pesadelo. Eu acredito que o homem é aprimorável, que outros mundos são possíveis, mas não dessa forma. Correr atrás de miragens não traz nada de bom.
Como estamos na época das utopias mínimas – as promessas de fim de ano – vamos a uma reflexão sobre elas. 2019 está na porta, ganharemos um ano novinho em folha e não queremos estragá-lo de entrada. Então, o que fazer com as inevitáveis promessas que fazemos?
Minha sugestão: sigam sonhando. Mas tendo em mente que existe um imposto sobre o sonho: cada promessa se transforma em cobrança. Mesmos as internas, aquelas juras que fazemos apenas a nós próprios sem comunicar a ninguém. Uma vez não alcançadas, resultam em uma sensação amarga. Caímos de nível aos nossos próprios olhos gerando um desgaste na autoimagem. Algumas depressões são sonhos abortados, fracassos oriundos de metas exageradas.
Nós humanos somos esquisitos, não basta sofrer pelo que vivemos, sofremos pelo que não vivemos. Projetos que não aconteceram, se foram muito desejados e possíveis, nos assombram e os carregamos como um fardo de dúvida. Promessas funcionam nessa gramática do não vivido.
E vocês sabem, a festa à que não fomos sempre é a que teria sido realmente boa. Com os desejos isso se repete. Entramos no reino do "tivesse". Tivesse trocado de curso tudo estaria diferente. Tivesse mudado de cidade estaria melhor. Tivesse insistido mais na relação ainda estaríamos juntos. Talvez sim, talvez não, mas a incerteza sobre a escolha nos consome.
O problema, portanto, não são as promessas e sim pedir demasiado: "esse ano vou emagrecer 20 quilos". Não daria para prometer: esse ano vou mudar a minha alimentação e parar de engordar? É factível, e se você tem sobrepeso importante, será uma grande vitória e estarás pronto para outro passo. Até porque a maioria desses regimes rápidos nos devolvem ao peso original em pouco tempo.
Se você é desses que diz: "comigo só funciona na radicalidade, ou tudo ou nada". Sem problema, mas lembre que a repercussão negativa também será "ambiciosa". Podes ganhar uma ressaca na autoestima tão radical quanto a meta.
A questão é sonhar sem construir futuras derrotas. Quem consegue vibrar com as pequenas conquistas é que chega longe.
Lembre-se, nunca é tarde para quem tem perseverança. O esforço se mostra mais forte que os arroubos de soluções rápidas. No fundo voltamos à fábula da lebre e a tartaruga.
Aproveite o fim de ano para sonhar com o que realmente podes fazer no ano que vem. Meus votos são que tenhas a tenacidade de perseguir tuas metas, não importa quanto tempo leve para chegar lá. O segredo não é apostar alto, é não desistir.