O que faz o inverno é o frio, e não o calendário. As datas de início e fim das estações do ano estão cada vez mais distantes daquilo que deveria ser o clima de determinado período. Esses dias me peguei pensando sobre como detesto dias frios.
Odeio deitar numa cama com lençóis gelados, caminhar até o banheiro no meio da noite, acordar cedo. Tudo fica mais difícil – a não ser que esteja de férias em frente a uma lareira ou fogão a lenha, tomando um vinho e comendo pinhão.
A realidade dos meus dias é de acordar antes das 6h e sair para a rua. Um martírio para quem, como eu, não gosta do inverno. Não houve, até hoje, nenhum ano em que não tenha procurado saber quando teríamos um veranico no meio dos dias frios. Mas, com tantas mudanças no clima e com os impactos disso na nossa vida, como essa recente tragédia que atingiu o Estado, eu tenho um novo desejo: ter as quatro estações bem definidas de volta.
Subvertendo a lógica que me acompanhou pela vida até aqui e a preferência pessoal pelo calor, saber que se o clima for como deveria ser pode reduzir esses impactos tenebrosos me alegra. Estou disposto a não reclamar da água gelada no rosto, da toalha úmida que não seca nunca, do vidro que embaça e não se vê nada.
Esse é só um exemplo de como, ao tornar-se um adulto, a gente passa a enxergar o mundo diferente. É como se cada vez mais o gosto pessoal tenha menos importância. O todo é mais relevante, a gente aprende a colocar tudo na balança da vida. Essa maneira de pensar ainda é nova para mim. Estou com 33 anos e, mesmo que sempre tenha sido ensinado a ter empatia, tem coisas que só se aprende com o tempo.
Escrevendo este texto também fiquei pensando em tantos outros exemplos de avaliações e opiniões que eu deixei de ter ou, simplesmente, mudei de lado, virei a casaca e me tornei conciliador. Isso não é motivo de vergonha. Quem está vivo precisa de transformação. E como é bom olhar pro passado e ver que estamos melhores.
Agora, vou programar um som para me acordar nesta sexta-feira (que será beeeeeem gelada). Escute também: Metamorfose Ambulante, do Raul Seixas. E com essa energia te desejo um bom fim de semana! Até sexta que vem.