Se você mora em Porto Alegre e já ouviu falar do Perau do Facão, provavelmente nunca esteve lá. Mas esse cânion que abriga a cachoeira escolhida como a mais bonita do Estado, em votação popular do G1 em janeiro passado, não é apenas uma das relíquias naturais ainda por serem descobertas no Rio Grande do Sul. Ela é, sobretudo, uma amostra do potencial turístico do Vale do Taquari, uma região ferida sucessivas vezes nos últimos 12 meses, que pode ser decisivo na recuperação da porção gaúcha mais atingida pelas enchentes.
De Taquari a Itapuca, de Venâncio Aires a Guaporé, essa região, antes de ser lembrada pela tragédia das águas, merece ser reconhecida por sua beleza, qualidade de vida e capacidade de dar a volta por cima
Nos últimos anos, tenho percorrido os escaninhos do Vale do Taquari em frequentes passeios fora de estrada que buscam um contato mais natural com a rotina, a gastronomia e a receptividade do interior menos tocado pelos ônibus de excursão. Circulo por estradinhas que serpenteiam montanhas e vales onde apenas aqui e ali começa-se a engatinhar na escada do turismo. Nessas jornadas, topo com atrações e vivências que são bem conhecidas localmente, mas que, por alguma razão, seguem represadas dentro do vale.
A exceção mais evidente é o Cristo Protetor, de Encantado, que em poucos meses criou uma indústria do turismo que já mexe o ponteiro da economia local e arredores. Os passeios no Trem dos Vales também já conquistaram um lugar na agenda do turismo gaúcho. Mas há muito mais, a começar pelo contato com colonos de origem alemã e italiana, que ainda não fizeram da preservação de suas línguas e costumes cartões-postais para olhares de fora.
Essa cultura mais raiz tende a se transformar, como já ocorreu na serra gaúcha. Nenhum problema. Ao contrário. A renda trazida pelo turismo estruturado pode ser fundamental no desenvolvimento do vale, como já descobriram alguns descendentes dos imigrantes alemães que reformam as casas em enxaimel de antepassados e as convertem em charmosos cafés e pousadas.
Como repórter de Zero Hora, percorri, há uns 35 anos, o trecho montanhoso entre Travesseiro e Capitão, e me surpreendi quando crianças de uma escolinha rural pararam a algazarra do recreio e correram até a cerca para ver um carro passando. Esse tempo não existe mais. Modernidades, como internet e celular, se infiltraram por todo o lado, o que é uma mão na roda para manter os jovens no interior e acelerar a recuperação.
De Taquari a Itapuca, de Venâncio Aires a Guaporé, essa região, antes de ser lembrada pela tragédia das águas, merece ser reconhecida por sua beleza, qualidade de vida e capacidade de dar a volta por cima. Ah, o Perau do Facão, no interior de Arvorezinha, reabriu em junho para visitação. Tenho de voltar lá para fazer a trilha. Dizem que é imperdível.