Pois a prefeitura de Porto Alegre decidiu retirar os patos e gansos do Parque Moinhos de Vento, que por gerações fizeram a alegria de crianças que viraram adultos. Não que a decisão da prefeitura esteja errada. Ela é só uma contingência da deseducação e do fermento corrosivo que destrói, pouco a pouco, a sociedade brasileira. “Patos não deveriam estar em parques abertos, sujeitos a ações de vândalos e outros animais”, explicou um funcionário da prefeitura.
Em Porto Alegre e no Brasil, faz sentido. Mas no mundo onde se respeitam bens públicos, o que inclui patos e cisnes alegrando parques praças, a justificativa seria recebida com espanto. Onde mais se tolera que donos de cachorros soltem seus animais para atacar aves ou que patos sejam surrupiados? Sim, no Brasil furtam-se até patos de parques em áreas nobres, sem contar tampas de bueiros e fios da iluminação pública.
Olhando em retrospecto, não adianta tentar responsabilizar ideologias ou um governante ou outro pelo descalabro. Na China ou na Holanda ultraliberal, quem quer que se adone de um busto em praça pública para derretê-lo e vender ou comprar o metal vira um pária. No Brasil, não. Somos condescendentes com os atentados às coisas públicas desde sempre. Há cinco anos, o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado lançou-se a um meritório programa de restauração de monumentos na Redenção. Boa parte havia sido depredada, pichada ou furtada meses depois.
O símbolo máximo dessa desfaçatez talvez tenha sido o furto da taça Jules Rimet. Maior conquista do esporte nacional, a taça veio em definitivo para o Brasil com o tricampeonato mundial de futebol, em 1970. Podia ser hoje objeto de culto por brasileiros e turistas estrangeiros. Com a conivência de um funcionário da CBF, a taça foi furtada e seus 3,8 quilos de ouro, derretidos. Nunca mais pôde ser admirada, como o tesouro da humanidade incinerado pelo descaso do incêndio no Museu Nacional.
Não há como se construir uma nação sem consciência social, que começa pela educação e pela responsabilização individual, não importa de quem seja. Governantes podem e devem dar o exemplo. É verdade que a roubalheira da Lava-Jato, graças a uma eficiente estratégia de marketing e à competência de advogados, virou uma injustiça malvada contra pobres políticos perseguidos. Também é verdade que, para muitos, rachadinha não é crime, desvios na saúde são questão de oportunidade e a promiscuidade de políticos com milicianos não é tão grave assim.
Então que, ao invés de copiar os maus exemplos, a maioria honesta e decente ponha as coisas nos seus devidos lugares, como o fez esta semana o porteiro de um prédio que estava sendo pichado em Porto Alegre. É só uma pichação, tentou protestar ao vigilante a dupla ao ser flagrada. O porteiro anônimo que chamou a polícia é o Brasil que pode dar certo.