Fazia muito tempo que não se via Dilma Rousseff esbanjar tantos sorrisos. Desde que deixou o Planalto, Dilma parece mais descontraída, exibe um semblante desanuviado e, dizem, está desancando menos aqueles a sua volta. Com mais tempo para cuidar da saúde e conviver com a família, seu astral contrasta com o de ex-assessores macambúzios e com um Lula visivelmente abalado e apagado. Além de se declarar motivada para lutar pela volta à Presidência, Dilma está livre, leve e solta de carregar R$ 170,5 bilhões de déficit, os mais de 11 milhões de desempregados e as consequências devastadoras de gastos federais 98% acima da inflação nos últimos 10 anos.
Tamanha enrascada econômica verga a impopularidade de qualquer chefe de Estado, ainda mais quando, para tirar o país do fundo do poço, é preciso defender aumento de impostos e a reforma da Previdência, como fez Dilma. Fora do Planalto, a rotina é bem mais suave: cessaram as manifestações e cartazes hostis, pipocam atos de apoio e solidariedade. De algoz do sonho de um Brasil desenvolvido e decente, Dilma passou a encarnar o papel de vítima de uma conspiração maléfica. A narrativa ecoa nos tropeços do governo Temer e reverbera em gravações que rapidamente sufocam as que ajudaram a dizimar a credibilidade de Dilma e seu entorno. A memória é curta e, com o país na lona moral e econômica, ai do vencedor, seja ele presidente ou presidenta.
Dilma não só aparenta alívio. A cada mancada do sucessor, é nítida a sua Schadenfreude, a palavra alemã que expressa felicidade pelo infortúnio alheio. Governar é uma barbada quando se tem dinheiro de sobra e, portanto, popularidade idem. Na atual desgraceira econômica, é uma tormenta atrás da outra. Quem está no leme tem de gerenciar uma crise abissal cevada por descontentamentos, reivindicações estapafúrdias, vaidades, traições, intrigas e a desoladora sensação de enxugar gelo. Até o vinagre do imprescindível ajuste fiscal que temperava a salada do segundo mandato saiu de cima da mesa de Dilma e sua constrangida base de apoio para azedar agora o cotidiano daqueles que, na trincheira contra o governo até dias atrás, torciam o nariz para o corte de gastos públicos.
Na oposição, a única ambição é chegar ou, no caso da turma do Fora Temer, regressar ao poder. É uma meta simples. Congrega diferentes correntes, silencia dissidências e produz uma unidade clara e objetiva, de fácil absorção na rua e nas redes sociais. Os aliados de Dilma já não precisam recear tanto restaurantes e aeroportos. A grosseria de hostilizar adversários é agora celebrada pelos que antes se indignavam pela torpeza de interromper um jantar alheio para tentar produzir cenas embaraçosas para as redes sociais. A política é assim: com o bônus do poder vem o ônus do poder. Na oposição, as noites são povoadas por sonhos de uma volta por cima. No governo de um país arruinado, são só pesadelos.