No campeonato de estultices que povoam os subúrbios da operação Lava-Jato, o primeiro lugar do pódio deve ser conferido ao grupelho que vaiou a mãe do juiz Sérgio Moro, Odete, quando ela recebia, na Câmara de Vereadores de Maringá, um diploma pelo Dia Internacional da Mulher junto com outras 14 homenageadas. Enquanto cerravam punhos e gritavam "Lula, guerreiro do povo brasileiro", o que deve ter passado pela cabeça dos manifestantes? Que se constrangessem bastante Dona Odete, seu filho mudaria convicções e sentenças? Que o perigoso alvo de sua cólera, uma professora de 70 anos, ligaria para o filho juiz e exigiria que livrasse a cara do ídolo dos insatisfeitos?
Dona Odete não se abalou pela gritaria e manteve o sorriso, deixando o episódio falar por si. Na mesma noite da vaia a Dona Odete, uma turba do MST invadiu e, em meio a insultos e palavras de ordem, pichou o prédio dos jornais, da rádio e da TV da Organização Jaime Câmara, em Goiânia, em um ato condenado no Brasil e no Exterior. Assim como os manifestantes de Maringá, o que queriam os líderes da balbúrdia? Imaginam que a opinião pública mudará de lado se silenciarem veículos de comunicação na marra? Acreditam que os jornalistas deixarão de publicar uma vírgula se forem xingados ou ameaçados?
Ações grotescas e baixarias não contribuem para construir um país melhor - e nelas se incluem os fanatizados que botam a boca em ministros e deputados do PT em aviões e restaurantes. Esses são mal-educados que precisam aprender a conviver em sociedade e com as diferenças. Felizmente, são poucos, dispersos e, ao contrário dos movimentos organizados, muito raramente agem de forma pensada e planejada como se vê agora.
Em uma onda claramente concatenada, desde a semana passada destampou-se de vez, sobretudo via redes sociais, convocações e ataques a juízes, policiais federais, promotores, procuradores e imprensa, os quais a autoproclamada "resistência popular" enxerga como protagonistas de uma enorme conspiração, sabe-se lá como, contra o desejo do povo. Em outras frentes, multiplicaram-se invasões de prédios públicos e privados, e bloqueios de ruas, estradas e até de uma ferrovia. Alguém precisa recomendar um bom relações públicas aos idealizadores dessas ações, porque a maneira mais rápida de perder o que resta de apoio a sua causa é invadir, depredar, pichar e confiscar o direito de ir e vir alheio.
Além disso, os adeptos da força bruta já deveriam ter aprendido que, no Brasil de 2016, Judiciário, Polícia Federal, Ministério Público e imprensa são instituições que não se abalam por cara feia. É quando brotam as pressões e ameaças que os pilares da democracia são testados para persistir na linha da independência e convicção de fazer o certo - e nem mais, nem menos porque alguém está berrando lá fora ou descendo a Sierra Maestra pelo Facebook.
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