A sorte do novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, é que, a exemplo do ano de 2016, ninguém espera muito dele. O ministro não é reconhecido por ser um estrategista ou pensador econômico, nunca terçou armas em público para defender com unhas e dentes suas ideias e, na realidade, poucos seriam capazes de expressar quais são essas ideias para o futuro do Brasil.
Sabe-se agora, quase três semanas depois da posse, que Barbosa parece ser a favor do ajuste fiscal e de uma inevitável reforma da Previdência, pero no mucho. Bastou um muxoxo do presidente do PT, Rui Falcão, para arrefecer o ímpeto reformista do governo. Falcão ecoa os porta-vozes dos movimentos sociais, que apresentaram a Dilma a conta do apoio nas ruas contra o impeachment: nada de reformas para valer. Tudo deve se conservar como está. Não importa que os seguros desemprego e defeso sejam ninhos de fraude e nem que levas de beneficiários procurem o quanto antes um encosto na Previdência, se possível antes dos 50 anos.
O que importa para os defensores da fracassada Nova Matriz Econômica é preservar o modelo de Estado-babá, mesmo que a noção de que o governo deve fazer concessões a todos o tempo todo não consiga ser sustentada nem em países que nadam de braçada no oceano do bem-estar. Aqui, por razões eleitoreiras, fizeram o povo crer que o Brasil tinha superado a pobreza e que o governo a tudo podia bancar - desde a engorda do número e de benefícios a servidores públicos a empréstimos camaradas para amigos do rei. Criou-se, neste caso, um excesso de expectativa, que deu no que deu: frustração, revolta e rancor com os falsos profetas. Prometeram o paraíso, mas o país não tinha sequer passado da antessala do purgatório.
Para nossa ventura, deve-se admitir que Nelson Barbosa se esquiva da discurseira ufanista mirabolante que encontrou em Lula seu principal embaixador: ao falar, o ministro é tão empolgante quanto uma palestra de Geraldo Alckmin com prólogo de Michel Temer. Em um mundo ideal, porém, o ministro diria toda a verdade sobre a indigência das contas públicas, como começa a ser feito em alguns Estados. Detalharia os erros que conduziram a nação ao vale de lágrimas e apresentaria um vigoroso plano de reformas e de recuperação. Talvez seja pedir demais que Nelson Barbosa confronte ao mesmo tempo o presidente do PT, os movimentos sociais e seu próprio passado de avalista do programa que levou à ruína econômica. Mas, se ele ao menos se descolar dos vendedores de ilusões de sempre, teremos um resquício de esperança de que 2016 não irá para o catálogo dos anos que gostaríamos de esquecer.