Entre as muitas notícias dolorosas que os meios de comunicação se veem compelidos a divulgar, nenhuma é tão estupidamente trágica e evitável como a morte de uma criança ou adolescente por afogamento. Compreensivelmente, nos chocamos com o afogamento de refugiados no Mar Mediterrâneo, mas quase todo dia temos cenas idênticas bem aqui ao nosso lado: esse massacre a conta-gotas tira a vida de 6,5 mil brasileiros em média por ano, cerca de 200 dos quais no Rio Grande do Sul, sem que haja perspectiva de reversão da catástrofe.
Ao contrário: desde 19 de dezembro, 28 pessoas morreram afogadas no Estado em locais sem salva-vidas, mais que o dobro no mesmo período do verão passado. Entre os mortos, estão duas crianças de oito e nove anos e um tio que tentou socorrê-las quando se banhavam no Rio Cacequi no sábado.
Apesar de esforços isolados, essa tragédia só será atenuada se houver uma cultura de responsabilidade no Brasil. Há dois anos, o Grupo RBS e o Ministério Público do Rio Grande do Sul lançaram uma campanha, batizada de Uma Vida Vale Muito, para realçar a percepção de que o cidadão comum também tem a obrigação de prevenir acidentes e zelar pela segurança alheia. Ou seja, o brasileiro deve eliminar a noção de que a responsabilidade pela integridade física é exclusivamente do governo, do Estado ou de terceiros. Quando se trata de acidentes, não é. O dono de uma canoa que a enche de crianças sem coletes salva-vidas para um ingênuo passeio no açude deveria ter consciência de que, na verdade, está levando-as para uma caminhada na corda bamba sobre o abismo.
Apenas 15% das mortes por afogamento no Brasil acontecem no mar, e ainda assim geralmente em pontos sem salva-vidas. O restante ocorre em rios, açudes, represas e piscinas. Grande parte destas mortes seria evitada com uma providência simples: ensinar crianças a nadar ou a pelo menos se manter à tona em caso de emergência. Diante de tamanha carnificina nas águas, toda a sociedade, da família ao poder público, deveria centrar esforços no ensino de natação e, portanto, na prevenção daquilo que há de mais importante - a vida de crianças e jovens.
Há muito mais a fazer: disseminar o uso de coletes salva-vidas, cercar piscinas caseiras e, principalmente, vigilância, vigilância e vigilância. No ano passado, os assaltos deixaram 141 mortos no Rio Grande do Sul, e isso é chocante. Mas é simplesmente intolerável que um acidente de fácil prevenção mate, sem alarde, um número maior de gaúchos sem provocar nenhuma reação além de luto e lamentos.