O clima pelo impeachment ainda nem esfriou e o governo Dilma tem um novo caroço a digerir. O congresso da Fundação Ulysses Guimarães, leia-se do PMDB e principal aliado do Planalto, indicou que, sim, a tropa peemedebista não só pretende mostrar que está pronta para subir a rampa do palácio como também carrega sob o braço um roteiro para acalmar o mercado e investidores externos em caso de mudança súbita de poder.
Pela forma e pelo momento, Uma Ponte para o Futuro, o documento lançado sob a tutela do vice-presidente Michel Temer, guarda semelhanças com a Carta aos Brasileiros com que Lula tranquilizou as forças produtivas do Brasil em 2002, quando ficou claro que poderia assumir a Presidência. O chamado Plano Temer contém um alentado conjunto de propostas que são o oposto do apregoado pelas esquerdas para tirar o país da crise. Diante da cratera nas contas públicas, o PMDB receita medidas impopulares como a idade mínima para aposentadorias, o fim da indexação dos benefícios ao salário mínimo, a primazia de acordos coletivos sobre o cipoal de regramentos trabalhistas e, não menos importante, a substituição do atual capitalismo de Estado pelo desenvolvimento centrado no fortalecimento da iniciativa privada.
É pouco provável que, uma vez no poder, o balaio político do PMDB levasse adiante um programa que imponha sacrifícios e tire o Estado das mãos das corporações. Mas o efeito politico está configurado. Com o Plano Temer, o PMDB apresentou um programa de governo e confiscou publicamente a plataforma tucana de reforma do Estado, desfigurada pelo apoio de quase toda a sua bancada na Câmara a projetos que aprofundam o rombo fiscal, como o fim do fator previdenciário e a derrubada do veto ao reajuste de até 78% aos servidores do Judiciário.
Paradoxalmente, na tensa noite da votação do veto coube a um deputado do PT gaúcho, Paulo Pimenta, enfrentar a pressão das galerias e discursar contra a gastança, que imporia um gasto adicional de R$ 39 bilhões até 2019. Fragilizado, o governo ganhou por apenas seis votos, entre os quais o de um deputado peemedebista de oposição, Darcísio Perondi, que quer a saída de Dilma mas foi fiel a sua crítica ao clima de quanto pior melhor. Não é a regra. Nestes tempos de vale-tudo, antigos defensores da responsabilidade com o dinheiro público votam em peso pelo aumento de gastos e vice-versa. Vá o eleitorado entender - e o país suportar.