Com emoções intensas a cada semana, a Operação Lava-Jato, vamos convir, é um dos mais dolorosos atos de penitência já vivenciados pelo Brasil. Mesmo com eventuais exageros aqui e ali, a operação é dolorosa para o juiz Sergio Moro e para incontáveis magistrados, procuradores e policiais federais enxovalhados por ativistas nas redes sociais a serviço de interesses que não ousam dizer o nome. Instituições e servidores suportam todo dia ofensas escabrosas e delirantes acusações de conspiração, enquanto restringem suas vidas pessoais para dar cabo da imensa tarefa que a realidade lhes depositou nas mãos.
A operação é dolorosa também para centenas de milhares de trabalhadores qualificados e honestos que atuam nas empresas enroscadas no petrolão. Tome-se as duas corporações sob foco mais reluzente. Petrobras e Odebrecht têm um alentado portfólio de conquistas e inovações no Brasil e Exterior construído pela competência técnica de seus profissionais. Ser executivo da Petrobras era no passado a aspiração de nove entre 10 engenheiros ou geólogos. Hoje, o cidadão que se apresenta como gerente da estatal é injustamente estigmatizado pela canalhice de um grupelho com quem ele provavelmente jamais teve qualquer contato.
A Lava-Jato é dolorosa ainda para filiados e militantes de partidos que acreditaram em um sonho, dedicaram suas vidas e ideais a ele e que, na imensa maioria dos casos, não se beneficiaram indevidamente de cargos públicos, se é que um dia chegaram a ocupar um. Esses militantes que já viveram a alegria das ruas sentem agora o pesadelo das vaias, dos dedos apontados e das suspeitas generalizadas enquanto se veem instados a defender o indefensável.
Por fim, a operação é dolorosa para o Brasil. Há o aspecto econômico, dos planos desmoronados da família do operário demitido no canteiro de obras em Pernambuco ou da microempresária de Rio Grande que tomou um empréstimo para ampliar o restaurante, na expectativa de uma freguesia que não apareceu. O pior, porém, é o desapontamento moral e a sensação de que, de alguma forma, falhamos lá atrás ao deixar o país chegar aonde chegou.
O fato é que todo esse sofrimento deve ter uma razão. Uma das saídas para o calvário seria o Congresso aprovar pelo menos algumas das 10 medidas de combate à corrupção sugeridas pelo Ministério Público Federal, entre elas a criminalização do caixa 2. Pode não resolver tudo, mas guarde-se aqui a conclamação do coordenador da força-tarefa do MPF na Lava-Jato, Delton Dallagnol: "Vamos transformar, juntos, o maior escândalo de corrupção na maior oportunidade de mudança de nosso país para melhor". Assim seja.