Minha coluna de hoje seria sobre um vídeo que recebi de uma amiga, que me deu um belo susto e me levou a escrever um artigo logo. Sem pesquisar, sem conferir. Até a voz do vídeo eu pensei reconhecer. Era uma jovem mostrando uma boneca que a filhinha teria recebido entre outros presentes, boneca "menina" de vestidinho e tudo, que – descobriu a criança trocando a roupa do brinquedo – ostentava um óbvio "piu-piu", na linguagem dela. Mas, compensando uma precipitação que em geral não tenho ao escrever, logo alguém chamou minha atenção, o vídeo era fake, e nem novidade era. Suspendemos a coluna, e eis-me aqui fazendo outra, bem mais agradável para mim.
Falo de um precioso objeto que acaba de chegar em minha casa, via Sedex, naturalmente com algum atraso porque estivemos em greve. Que objeto, e por que precioso – para esta que aqui escreve? Meu novo livro. Meu livro de número trinta. Trinta? Refiz a conta e, sim, em muitas décadas, escrevi trinta livros, então não é um exagero. Bem menos de um por ano.
Seremos todos Penélopes da própria existência?
Estou habituada a escrever e receber meus livros. Essa é a minha profissão. Mas este, talvez pelo número, me tocou mais. Estou com ele em cima da escrivaninha, aquele primeiro e único que o editor me manda sempre antes que chegue meu lote completo: pequeno, discreto, A Casa Inventada. Que casa, e quem inventa? Criei uma alegórica casa da vida, da vida de cada um de nós, que a vamos criando. Diz uma personagem a outra: "Você não está inventando a casa da sua vida, está tecendo a sua mortalha. A cada noite interrompemos o trabalho, e recomeçamos no dia seguinte". Seremos todos Penélopes da própria existência?
Quem sabe. O jeito é ler o livro. Que deve estar nas livrarias do país no dia 6 de novembro, em pouco mais de duas semanas. O editor escreveu uma orelha breve mas que me agradou, pois pergunta-se como todo mundo fará: que gênero é esse? Ficção, memória, ensaio não acadêmico? Gosto de misturar tudo isso, desde O Rio do Meio, de 1997, passando pelo Perdas & Ganhos, e alguns outros, além de mais poesia e mais ficção. O editor conclui, e lhe agradeço por mais isso: "É o gênero Lya Luft".
Então nasceu e está chegando o meu novo livro, minha nova criatura, essa casa na qual não somos pedreiros nem arquitetos, mas amadores.
Quando ele estiver nas livrarias, eu aviso. Logo haverá, como sempre, aquela noite de autógrafos que me dará pesadelos (também como sempre), embora cada vez acabe numa celebração de afetos e carinho.
Quando chegar a hora, eu anunciarei aqui, e escreverei de novo: "Não me deixem só". E divirtam-se com mais uma invenção minha.