“A verdade é que meu pequeno mundo era gigante. O rio, imenso. O mato, exuberante”. Quem fala aqui é Sady Corso, e eu o leio no livro O Maior Rio do Mundo, de Helena Vellinho Corso (editora Manuscritos, Joinville).
O livro é uma doçura, resultante do amor e apreço da filha, Helena, pelo pai, Sady. Ela conta que sabia alguma coisa da história primeira do pai e que ia se dando conta de que em algum momento ele não estaria mais por perto para dar detalhes, para contar outra, para enfim registrar sua trajetória.
Acho que já contei uma cena desse tipo que vivi com meu pai. Nós na casa da praia, muitos anos atrás, ele mexendo num canteiro de flores, que lhe agradava muito, e eu o observando vadiamente, com um mate na mão, que ia oferecer a ele. Sem que me visse, ele soltou uma frase à toa, para ninguém, para o infinito: “Será que agora é a melhor época pra plantar isso?”.
Terminou de dizer a frase e deve ter-se dado conta de que alguém poderia ter ouvido. Virou-se e me viu. Aí, meio como quem se explica e meio que se desculpa, completou: “Isso meu pai saberia dizer, mas agora ele não tá mais aqui pra responder”. Eu não sei o que fiz, se é que fiz algo além de oferecer o mate.
Pois a Helena tomou a providência para salvar do esquecimento tudo que dava. Ouviu seu pai e registrou. Então temos a história do seu Sady, que no futuro seria professor da Faculdade de Farmácia da UFRGS, mas que nasceu à beira do rio das Antas, o maior do mundo, em sua visão amorosa.
As durezas da família de gente imigrante, os obstáculos, os triunfos, a família que inventou, tudo vem vindo em primeira pessoa, e a gente vai esquecendo por momentos dos milhares de mortos atuais, da insensibilidade de tantos governantes, de tudo isso. Um refrigério nesse tempo horrível.