Esses dias, no pátio de colégio em hora de recreio que é o Facebook, entrei numa postagem do Juarez Fonseca em que rolava uma conversa sobre o novo prefeito.
(Já desenvolvi a tese aqui, uns anos atrás: no Facebook, eu me sinto como me sentia no colorido pátio do colégio. Tem o valentão cantando marra, tem as gurias se reforçando numa percepção sobre um caso de interesse, tem os idiotas que nunca conseguem outra coisa que não seja falar mal dos outros, tem os que só sabem comentar a rodada de futebol que passou, tem os isolados que se julgam certos mas estão errados, tem os certos que não esperam ser compreendidos mas mesmo assim exibem a certeza que têm, tem os líderes apenas da própria namorada, tem os camaradas arregimentando o pessoal para causas decentes. Uma beleza.)
Eu escrevi lá, concordando que a gente anda num baixo astral pesado que transcende a pandemia, o desgoverno federal e outras mazelas:
“Falta um ânimo que a gente perdeu há tempos. Espero que dê pra recuperar ainda durante o nosso tempo de vida. Mas é certo que nós vivemos uma movida, desde os meados dos 1970 até a virada do século, que foi muito particular — fim da URSS, queda do Muro de Berlim, começo da era dos computadores pessoais, liberação sexual, declínio do mando católico na vida civil, fim da ditadura, controle da inflação, ascensão de partidos modernos com projeto, nova constituição, o Mercosul. Porto Alegre soube se colocar nesse cenário. Essa conjunção é que deu gás pra tudo.”
Repito isso aqui não pra me gabar de ter vivido isso, nem para maldizer o presente, mas para, quem sabe, estimular o nosso pensamento: o que estamos vivendo hoje? Que linhas de força atravessam este começo de terceira década do século 21? Onde achar o lugar da cidade e do Estado nesse novo contexto?
Cartas para a redação.
PS.: Aproveito para recomendar um livro muito legal para quem vai encarar Enem ou vestibulares. Acima de 900 — Redações Enem, da Mariana Freitas Gutfreind (editora Bestiário). Ótima ideia da Mariana: juntou as redações bem-sucedidas que vem fazendo na preparação para os exames num livro, que é uma simpatia como depoimento de uma jovem de nosso tempo, e um bom exercício para colegas de geração.