Um necrológio em forma de artigo de jornal, publicado 130 anos atrás (novembro de 1889), é o ponto de partida de um livro competente e muito original. Se fosse necessário colocá-lo numa prateleira, ele teria que estar dividido entre a História e a Crítica Literária, ou a História da Literatura.
Jandiro Koch, historiador, interessado no tema LGBT+ — ele já publicou mais de um livro sobre o tema (como Sociedade à Espreita, da editora Buqui, aqui de Porto Alegre) —, desencavou um texto escrito por três figuras da Era Parnasiana, ou da Era Naturalista, que são dois nomes desiguais para um mesmo tempo, entre 1880 e 1920. As figuras são Francisco de Paula Ney, Coelho Neto e Pardal Mallet; o falecido que merece o registro era Babá. Daí o título do livro: Babá — Esse Depravado Negro que Amou (Libretos, 2019).
Esse Babá trabalhava no mundo da boemia, da noite profunda, dos cabarés, e teria passado desta para a dita outra sem mais destaque, não fosse o fato de os três escritores, de grande prestígio, o terem conhecido. Babá era um profissional do sexo, além de ser funcionário de cabarés. Uma figura várias vezes marginal.
O trabalho do Jandiro Koch foi não apenas reeditar o necrológio, o que por si já seria meritório; ele foi atrás da história dos envolvidos. Pardal Mallet nasceu em Bagé, foi republicano e inimigo de Floriano Peixoto, que o exilou para o Amazonas, e morreu aos 30 anos de tuberculose.
Fez igualmente um mergulho no contexto histórico e discursivo em que tudo isso transcorreu — em pleno fervor naturalista, que pregava a adesão do escritor à dureza da realidade, o que sempre incluía o sexo, falar sobre homoerotismo seguiu sendo um problema.
Um grande livro, em formato pequeno. Um exemplo de ótima pesquisa historiográfica no tema.